sexta-feira, 28 de maio de 2021

EFEMERIDADES URBANAS

 

                                                        (Calle del Príncipe, Vigo)

(A leitura matinal do VOZ de GALICIA, mesmo por vezes à distância considero-me um cidadão transfronteiriço, traz-me temas interessantes para o post de hoje, naquele dia da semana que mais aprecio, a sexta feira da transição para o não trabalho profissional. Entre avanços nos compromissos políticos da alta velocidade ferroviária, concentro-me na evolução de uma das ruas que todo o português visitante de Vigo conhece.)

A ida de Nuñez Feijoo, presidente galego, a Lisboa (a permanente fixação da Galiza, muito mais premente do que a do Norte ou do Porto, pour cause), com reunião de trabalho com António Costa (pois o outro António, o Cunha, não tem poder para a interlocução necessária) parece ter produzido resultados. Os jornais galegos reconheceram a sua importância. Da reunião entre Costa e Feijoo resulta cada vez mais claro o compromisso político português (com início da obra Braga à fronteira em 2025?) de uma ligação de alta velocidade Porto-Braga-Vigo, projetando a prazo a ligação de toda a costa atlântica de Lisboa à Corunha. As coisas parecem finalmente compor-se, isto se um imprevisto qualquer de natureza orçamental obrigar de novo a um reajustamento das coisas. E se o compromisso político português parece começar a estar firme, seria agora necessário que Xunta da Galiza e governo espanhol se pronunciassem de vez sobre a saída sul de Vigo e respetivo túnel para permitir que a alta velocidade portuguesa entronque diretamente com o AVE galego e espanhol. Assim, a nossa ligação a Madrid rumaria a norte, o que teria um efeito simbólico.

A conversa com António Costa terá agradado a Feijoo (link aqui) que vê assim a intuição de Fraga Iribarne começar a tomar forma, a ligação rápida da Galiza a Lisboa, com a amizade galaico-nortenha pelo meio mais fortalecida.

Na mesma edição de hoje da VOZ chegam-nos ecos da mudança acelerada da mítica, para todos os portugueses, Calle del Principe (link aqui), das lojas de moda de vestuário, das cafeterias e esplanadas, do Centro Cultural, das noivas, das sapatarias, do escritório da TAP, das calles cruzadas e perpendiculares à del Príncipe, dos mimos e outros artistas de rua, também dos “drogaditos” arrastando-se pela vida. Já antes da pandemia se anunciava essa mudança acelerada, com a saída de algumas das marcas mais icónicas e a permanência durante longo tempo de espaços vazios que esperam pela reocupação ou reutilização. Tal como a VOZ bem o assinala, a criação do novo centro comercial em torno da estação Urzaiz do AVE acelerou a mudança e, preenchendo espaços vazios, estão a chegar à Del Príncipe as empresas tecnológicas, anunciando que em grande medida o vestuário migrará para outras zonas de maior frequência de visitantes e chegarão outros negócios que buscam centralidade mas que não necessitam desses focos de concentração de visitantes. A banca também regressa com novas fórmulas de negócio, o Work Café do Santander valerá a visita (espaço de trabalho para homens de negócios) e a Caixa Bank Store com loja comercial associada e obviamente o imobiliário de luxo também faz o seu aparecimento.

Nada mais nada menos do que a efemeridade urbana tão estudada, da qual a literatura nos tem oferecido evidência bastante. E, como sempre, em função das atmosferas que resultarão das mudanças operadas, migraremos nós também em função dos ares que mais nos agradam.

Estou ansioso por uma visita pós-pandémica a Vigo, uma boas tapas com Albariño galego, para apreender se as novas vivências da Calle del Príncipe nos remeterão para outros lugares mágicos ou se, pelo contrário, encontraremos na sua renovação novos pontos de interesse. Como sempre foi.

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