A conjuntura política que por cá corre é confusa por inventiva em excesso, saloia por desajustamento intrínseco dos protagonistas, perigosa por incapaz de deixar antecipar os riscos que se adivinham no horizonte e irrelevante por falta de foco no interesse nacional. Explico-me: o entretenimento preferido dos líderes e responsáveis partidários, aos quais se juntam os comentadores que deles são câmara de eco, é hoje o de se procurar adivinhar qual o destino do Orçamento de Estado para 2025 que só será divulgado dentro de mais de dois meses; Montenegro está visivelmente contente consigo próprio e com a oportunidade que lhe saiu em sorte, enquanto Pedro Nuno oscila entre expressões quase arrogantes de autossuficiência e o conforto de estar sentado em cima de uma luta adiada pelo poder; as decisões governamentais, podendo embora ser aqui e ali reveladoras de alguma eficácia (caso do modo como Fernando Alexandre lidou com a questão dos professores), são prenúncio de possíveis boas razões para se temer pela saúde das nossas contas públicas; o que mais verdadeiramente importaria que fosse abordado pelos nossos políticos, leia-se os caminhos da mudança estrutural de que o País continua distante, está largamente ausente do debate público. O triste cenário resulta ainda mais completo e apagado se lhe juntarmos pitadas de um Ventura oportunista e contorcionista, que também começa a revelar-se satisfeito por aceder a uma mais clara proximidade ao poder (assento no Conselho de Estado, em particular) e a perceber que pode perder pau e bola se forçar novas eleições, e de um Marcelo desorientado e em contagem decrescente para a insignificância imediata (perda de influência efetiva e posterior abandono de Belém) e vindoura (a História que dele não rezará).
Os portugueses, na sua maioria, passam ao lado da parafernália que os tenta envolver. A melhor prova disso está no modo como respondem aos inquéritos de opinião: Montenegro é o único político que escapa a uma nota negativa (ultrapassando até Marcelo em termos de confiança), o Governo é “razoável” (ou seja, serve assim e que vá ficando para evitar para mais ruído eleitoral inconsequente), o Partido Socialista lidera em intenções de voto (ma non troppo e com Pedro Nuno a não surgir com apreciação de destaque) e o “Chega” parece estar a deslizar para uma representatividade mais conforme à que realmente lhe pode caber.
Em todo este quadro, não sei se me engano por muito se afirmar que só o PS perde com a passagem do tempo de uma governação que se vai refinando em estilo e instalando em perceção e que sempre beneficiará do favorecimento do Presidente – o que, a ser verdade, deveria conduzir a direção do partido no sentido de se afastar decididamente de diagnósticos caricaturais como aquele que há dias ouvi da boca de um militante consagrado como é Ascenso Simões (“O Professor Cavaco Silva esqueceu-se dos últimos oito anos e tem um período temporal que são os anos desde o início do século, exatamente para dizer ‘isto é tudo mau’ quando efetivamente nós estamos a chegar a uma década em que nós crescemos acima da média europeia, nós resolvemos as contas públicas, nós melhoramos as qualificações, nós reduzimos a pobreza, nós aumentamos os rendimentos, nós acabamos com as empresas zombies por efeito do salário mínimo nacional e isso criou uma nova dinâmica empresarial, a captação de investimento estrangeiro foi essencial para as nossas exportações, os bens e serviços tiveram um peso menor do que as máquinas no contexto das exportações, portanto há uma alteração completa da nossa economia e a única coisa que se espera é que o governo do PSD não estrague.”) para se insinuar com firmeza e rumo na sociedade portuguesa e, especialmente, junto de algumas camadas estrategicamente relevantes em termos eleitorais e/ou de dinâmica transformadora; onde param, Pedro Nuno, a prometida reorganização interna e o anunciado lançamento de uns Estados Gerais?
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