Não posso propriamente afirmar que estes meus três dias de ausência se devem a picos de trabalho, como já sucedeu em outras ocasiões, ou a uma qualquer espécie de “direito à preguiça”, para parafrasear o discreto genro de Karl Marx. Apenas se trata de um certo fartote temático – entre os que verdadeiramente relevam mas estão exauridos até novas “ordens”, como é o caso da terrível situação americana (foi Clara Ferreira Alves que lapidarmente escreveu no último “Expresso” que “no duelo Biden/Trump, o que aconteceu perante os olhos do mundo foi a morte da política do século XX” e que “não se trata se saber se Biden deve ou não desistir, é tarde demais, é sol-posto” mas “de saber quanto tempo durará ainda a democracia liberal e que sistema de perceções de liberdade a substituirá”), e os que também importam mas se encontram ainda sobredeterminados pela indeterminação, como é o caso da complexa situação francesa.
Junta-se ainda uma silly season doméstica chegada um pouco antes do tempo com as minúsculas questiúnculas para que já não há pachorra de nenhum tipo. Neste último caso, com destaque para a permanente troca partidária e comentarista de “bocas” em torno da aprovação ou não do próximo OE (eu, pelo menos, mudo logo de canal sempre que Montenegro, Pedro Nuno ou Ventura fazem declarações sobre a matéria!), já para não referir temas tão candentes quanto os das gémeas, da retribuição dos polícias, da distribuição de dividendos das Águas de Portugal imposta por Medina e Costa, dos ziguezagues sobre o presidente do INEM, da antecipação do compromisso nacional perante a NATO para 2029 (mesmo que mediante uma atualização salarial dos militares) ou do enésimo lateral-esquerdo contratado pelo Benfica a juntar à permanência de Di Maria e à ansiada vinda de João Félix por 30 milhões; sobra, por junto e atacado, a justeza de se tentar abordar seriamente a problemática da Justiça (o manifesto dos 50+50), aliás cada vez mais intrincada e sujeita a dislates inqualificáveis quanto foram os que marcaram a primeira entrevista em seis anos da Procuradora-Geral da República.
Dito tudo isto, confesso que a única coisa que verdadeiramente me entusiasmou por estes dias foi o discurso de Keir Starmer à porta do número 10 de Downing Street: um discurso à moda antiga no bom sentido da palavra, pleno de intenção ao fazer regressar as ideias de trabalho e serviço público, respeito e unidade, mudança tranquila e tão urgente quanto viável, ideias bem capazes de incutir um novo sentimento de pertença nos seus concidadãos.
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