(A pressão era muita, com várias origens e, em meu entender, era tanta que a própria saúde do ainda Presidente dos EUA terá corrido perigo, corroído na profunda indecisão de aceitar essas vozes ou tentar um último sacrifício e prova de vitalidade. Pesou mais a pressão onde se destacaram os Obama. A questão é agora regressar à estaca zero e preparar uma candidatura de raiz ou seguir o trilho de Kamala Harris, que constitui para mim uma das mais misteriosas Vice-Presidentes americanas, tão diversos e profundos foram os seus apagões de presença e notoriedade nos tempos que acompanhou Biden. A substituição de Biden é dramática, trágica e cruel, tomando sobretudo consciência do seu importante legado nacional e internacional, no qual, não esqueçamos, há uma vitória sobre Trump e isso não é coisa pouca. Vale a pena ler o artigo de Teresa de Sousa, hoje, no Público, para compreender que por detrás daquela fragilidade estiveram importantes realizações, tornadas necessárias pelos desmandos de Trump na Presidência ganha com menos votos a uma incrédula Hillary Clinton que acho ainda hoje não ter percebido as razões da sua derrota. Se as eleições de novembro próximo já eram dramáticas no contexto em que vão acontecer, o seu dramatismo cresceu exponencialmente. É verdade que a campanha de Trump vai ter de mudar de agulha para se ajustar a um novo adversário. Mas estou em crer que um novo alvo surgiu a partir de ontem para os apaniguados do MAGA, questionar a presença de Biden na Presidência até ao fim do mandato.)
Lendo o já referido artigo de Teresa de Sousa e sistematizando o alcance do legado de Biden, mais aumenta a minha perplexidade quanto à incapacidade Democrata para forjar até agora uma candidatura alternativa. Só compreendo essa incapacidade atendendo a contradições internas, a eterna luta entre as correntes mais progressistas do Partido e as hostes mais instaladas na política. Estas batiam-se bem com os velhos Republicanos, entretanto refugiados em parte incerta ou reconvertidos num batismo à força, iniciado com os valores do Tea Party e agora revolucionados com a agressividade dos MAGA e correntes quejandas, cada qual a pior em termos de culto do desaforo, da violência e das ameaças antidemocráticas. Hoje, o contexto é outro. Parte do progressismo anda envolvido nas obscuras avenidas do wokismo, incapazes de perceber que o adversário mudou, agora está plasmado num trafulha ungido de herói salvífico.
Confesso a minha mais completa ignorância sobre quem melhor poderá recolocar a luta eleitoral num plano de maior equilíbrio, se Kamala Harris reconvertida no seu potencial inicial quando emergiu na política americana, se outra personalidade qualquer, vinda da política ou da sociedade civil. E fico tanto mais perplexo quanto mais leio as minhas referências habituais, New York Times, Washington Post, New Yorker, The Atlantic e personalidades como Bradford DeLong, Noah Smith, Paul Krugman e outros. Que eu esteja às escuras, compreende-se, afinal há um oceano a separar-nos e o digital não resolve tudo. Mas que essas minhas fontes habituais estejam também elas atónitas e sem ideias seguras quanto ao rumo que a substituição de Biden deve tomar é um indicador de que algo me escapa. Mas o que é que de facto se passa entre os Democratas?
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