Miguel Esteves Cardoso é um personagem incomparável da nossa praça, para o bem e para o menos bem. Todos o conhecemos desde a sua liderança no projeto de “O Independente”, da sua candidatura monárquica ao Parlamento Europeu, dos seus escritos de fino recorte, da sua declaradamente exagerada paixão publicitada pela mulher. De há uns anos a esta parte, brinda-nos com uma pequena coluna diária no “Público”, quase sempre interessante e frequentemente sagaz. Como acontece com o seu apontamento de hoje, que intitula “O novo incêndio do Chiado” e onde escreve com inteira propriedade sobre o impacto do turismo em Lisboa. Assim: “O problema não é o excesso de turistas: é a falta de portugueses.” Ou assim: “Os turistas sentem-se em casa, Não fazem o mínimo esforço para falar português. Numa cidade de passo rápido, andam insuportavelmente devagar.” Ou ainda, a terminar: “Os turistas de Lisboa já vêm ver a Lisboa dos turistas. Vêm ver-se a si próprios, num cenário luminoso e quentinho com empregados simpáticos que falam inglês.” Difícil ser mais expressivo quanto ao estado a que se chegou... – não auguro grande futuro a um país tornado doentiamente viciado numa indústria banal, de baixos salários e que tem necessariamente limites vitais de extensão e é geradora de efeitos sociais perversos; faça-se, pois, o Novo Aeroporto de Lisboa, rapidamente e em força, se possível com o máximo comportável de pistas!
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