(Corre pelas redes sociais um vídeo cómico-trágico em que um atleta a sugerir semelhanças com Nicolás Maduro arranca antes dos restantes concorrentes para uma prova de velocidade, de pistola em punho, vai aniquilando os adversários que correm atrás de si, chegando vitorioso a uma linha de meta que, entretanto, foi antecipada para facilitar a vitória. Não tenho nem informação, nem conhecimento do contexto em que decorreram as eleições venezuelanas para concluir com rigor que tipo de atrocidades eleitorais foram cometidas para perpetuar Maduro no poder. Depois, falta-me informação para avaliar se as múltiplas sondagens publicadas antes das eleições eram de confiança ou se estavam já contaminadas pelo jogo eleitoral. Por isso, terei que dizer que muito provavelmente existiu batota, de que tipo não se sabe, ou então as sondagens anteriores estavam também elas próprias viciadas no seu propósito. O que me parece ter existido é alguma ingenuidade quanto aos reais propósitos de Maduro no sentido de respeitar os resultados quaisquer que eles fossem. Com ditadores não há que enganar e ainda está para vir o primeiro que organiza decentemente um processo eleitoral para abrir caminho à sua sucessão democrática. O único elemento objetivo que possuo e que foi publicado é a afirmação da candidata excluída e verdadeira líder da oposição, Maria Corina Machado, de que estão em seu poder pelo menos 70% das atas eleitorais e essas não davam a vitória a Maduro. Outra questão bem mais complexa é a real dimensão da população que pode sentir-se ameaçada por uma substituição de Maduro por um governo democrático e obviamente de orientações mais liberais e pró-mercado. Sabemos que todos os processos de substituição de ditaduras latino-americanas se saldaram por processos mais ou menos selvagens de reconstituição dos mecanismos de mercado, com larguíssima penalização das populações mais desfavorecidas. O modelo de libertário selvagem com que Milei se apresentou na Argentina vai provocar um rol imenso de novos pobres, confirmando a regra. Creio que essa massa de população será claramente superior à que beneficia diretamente da ditadura de Maduro, pelo que a batota eventualmente existente ter-se-á limitado a acrescentar peso eleitoral a essa massa de potenciais excluídos.)
Imaginei que estivesse em curso algum plano secreto de assegurar a Maduro um exílio relativamente dourado, tamanha era a confiança ocidental e americana de que desta vez era a sério e que Maduro iria perder o poder. As sondagens só deram expressão a essa crença. Só na presença desse plano acreditaria que a substituição pudesse ser operada a partir do jogo eleitoral democrático.
Tudo leva a crer que esse plano oculto não terá existido, pelo que se mantém a regra de que os ditadores não brincam em serviço e que usarão as prerrogativas desse autoritarismo para assegurar a sua perpetuação no poder. Nessa base, a ditadura venezuelana ou cairá de madura e decrépita ou a violência acaba com ela. Tudo o resto é pura fantasia.
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