quarta-feira, 26 de setembro de 2018

VIVER AFOGADO EM ZEROS


Um apontamento curioso que retirei de uma recente daily chart da “The Economist”. Baseando-se no trabalho de investigação de dois economistas americanos, o gráfico posiciona episódios de hiperinflação identificados mundialmente e em período longo a partir de um indicador simples e menos cheio de zeros do que o que é habitual acontecer na matéria em causa: o tempo necessário para que os preços dupliquem se a inflação se mantiver ao seu ritmo mensal máximo. Por exemplo, e tomando o caso da Venezuela atual, verifica-se que a perda do valor do peso ocorrida neste agosto atingiu 50% em menos de 19 dias (note-se que a subida de preços no mês passado terá chegado a 223,1%, estimando o FMI uma inflação anual de um milhão por cento); uma barbaridade que, não obstante, “apenas” classifica a Venezuela no 23º mais gravoso dos 57 episódios observados. O recorde mundial, por seu lado, estará na posse da Hungria de 1946, quando a sua moeda perdeu metade do respetivo valor em 15 horas (note-se que, no pior mês, os preços húngaros terão aumentado 41.900.000.000.000.000% e que o governo teve de imprimir uma nota de 100 quintilhões (20 zeros), o que corresponde à mais alta denominação jamais produzida). Imagine-se agora o que é tentar viver a esta velocidade alucinante (aconselho aos mais interessados a leitura de um livro fabuloso para compreender a chegada do nazismo alemão – “The Coming of the First Reich”, de Richard J. Evans –, nele estando devidamente incluída uma passagem bem ilustrativa do impacto nesse quadro da hiperinflação de então) para se ter uma vaga ideia de como estará hoje a ser sofrido o quotidiano dos venezuelanos...

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