(Com um Jean-Claude Juncker aquela hora da manhã lúcido e sóbrio, o que
dizer do discurso de Estrasburgo? O que vem ele trazer de esperança a toda a espécie de dúvidas e interrogações?)
O último Estado
da União apresentado por Juncker, que não necessariamente o seu último discurso
como Presidente da Comissão Europeia, poderia ter um subtítulo aliás referido
ao longo da sua intervenção – “A road to Sibiu – Roménia”, local de
realização da última conferência de líderes europeus antes das eleições europeias
de 2019. Há pois uma dinâmica de aceleração do tempo político europeu e da
Comissão em particular. O objetivo é, como sempre, reativo. É preciso
apresentar resultados de promessa feitas anteriormente e ter a sua validação
como decisões europeias antes e a tempo das eleições.
Com referências
de memória histórica ao flagelo das guerras que envolveram a Europa, que
entendo importante manter viva para gerações demasiado distraídas e sem memória
e cultura históricas, Juncker teve oportunidade de fazer sobressair a sua dimensão
humanista defendendo uma Europa mais unida (“United we stand taller”)
e sobretudo o aprofundamento da sua soberania, numa era de duplo patriotismo
interdependente, amar o País e amar a Europa. Mas o mundo de promessas sobre as
quais se levanta a necessidade de mostrar resultados é ciclópica para uma estratégia
reativa e de aceleração do tempo para recuperar o dito: a inovação no mercado
digital único; o aprofundamento da União Económica e Monetária; a União Bancária;
O Mercado de Capitais Europeu; um Mercado Único mais justo; uma União Energética
com uma política de liderança climática; uma Agenda de Migrações global e uma União
de Segurança, não esquecendo que a Europa Social precisa de deixar de ser um simples
ramalhete decorativo para descanso dos corações mais solidários. Mas que agenda!
No mesmo
discurso cruzam-se ideias com alcance estratégico (como por exemplo a referência
a um outro olhar sobre o continente parceiro África, que emerge no discurso
como uma prioridade de geoestratégia) e outras de recorte mais pontual como a
questão da mudança de hora.
Quanto ao
BREXIT apenas a ressalva e recordatória dos princípios que têm orientado Barnier
nas negociações com o Governo conservador de Theresa May.
Esperaria talvez
um discurso mais contundente contra os nacionalismos xenófobos e antidemocráticos
que têm desafiado despudoradamente as instituições europeias, mas as contradições
existentes no Partido Popular Europeu explicam a situação e a lentidão dos
avanços para colocar a Hungria e outros países senão em posição de recuo, pelo
menos com mais respeito.
Mas de todo
o discurso ressalta sobretudo esta ideia de corrida contra o tempo, ou seja a
necessidade de ter resultados para apoiar as campanhas de partidos europeístas
nas próximas eleições. Já há muito tempo que estas corridas contra o tempo nas
instituições europeias deixaram de produzir resultados negociais inesperados e
virados para um futuro mais esperançoso. As lideranças políticas europeias são
cada vez mais cautelosas e têm o rabinho trilhado pelos eleitorados populistas
e xenófobos que ameaçam ter maiores representações parlamentares. Juncker não
poderia ter feito provavelmente melhor nas condições políticas atuais. Como referi
em post anterior, barrar o crescimento do nacionalismo autocrático e destruidor
da União no Parlamento Europeu é seguramente uma prioridade. Mas não chega. Os
colossos do PPE e dos Socialistas e Sociais-Democratas têm também de abanar as
suas próprias consciências e interesses instalados.
A corrida contra
o tempo começou. Mas o tempo da corrida europeia é seguramente um tempo lento. Veremos
se consegue transportar para o palco das ideias europeias algo de relevante e
de estimulante. Cautelas e caldos de galinha são necessários. O último Economist
(link aqui) afiança que os populismos europeus estão no seu pico ou seja que mostram tendência
para abrandar com algumas exceções essencialmente determinadas por
personalidades carismáticas. Não exageraria a distensão que esta análise pode
provocar. Prefiro raciocinar com base nos fatores reais que precipitaram as tentações
populistas e nacionalistas. E estes estão aí para desafiar o contra-ataque necessário.
Sob que comando?
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