terça-feira, 16 de junho de 2015

MISCELÂNEA A PARTIR DE TALLIN

(Praça central de Tallin às 22.15 da noite (isto é, dia)



(Short-break também dos problemas do país)

A TAP continua imprevisível. O que era para ser uma escala via Amesterdão em direção a Tallin (Estónia) transformou-se numa outra via Frankfurt com novo horário praticamente em cima da hora, consequentemente obrigando a um acordo com uma nova companhia (neste caso a Lufthansa) e a minha dúvida é quem terá pago, certamente a TAP.

Por conseguinte, com alongamento da viagem tempo bastante para leituras diversas, com distância aos problemas do burgo e mergulho nos tempos difíceis e complexos de hoje, para nosso infortúnio. O mundo não se recomenda, a ninguém.

Primeiro, e pelo facto de estar nos países bálticos, a certeza de que os EUA, embora continuando renitentes a permitir que as botas dos seus soldados pisem territórios deste mundo perigoso de que falava cederam ao pedido destes países que se sentem cada vez mais inseguros com o belicismo soviético e a imagem do passado é suficientemente aterradora para os colocar inquietos. Obama deu luz verde à localização nos novos países da NATO de tanques de guerra, veículos de apoio à infantaria e outro equipamento militar pesado para um volume de tropas de cerca de 5.000 soldados americanos, algo semelhante às bases que os americanos detiveram no Kuwait antes da invasão deste país pelo Iraque. Por agora é apenas o equipamento. Não vá Putin tecê-las.

Depois, noutro plano mas envolvendo ainda os americanos mas desta vez numa disputa geoestratégica com a União Europeia, Obama está seriamente ameaçado pelo facto dos democratas terem mostrado a sua oposição ao chamado Pacto Comercial do Pacífico com o qual o presidente americano pretendia isolar a China, colocando-a fora desse acordo. As razões para essa oposição são várias, e exigirão um outro post. O tema dominante é a mais que provável perda de poder judicial deliberativo dos estados nacionais face ao poder que é alegadamente atribuído aos investidores internacionais, designadamente empresas globais e transnacionais, que podem furtar-se a querelas judiciais com os estados nacionais se invocarem ter sido discriminados com alguma medida comercial mais heterodoxa. O tema é relevante e atinge também parceria idêntica com o Atlântico. Merece por isso uma discussão mais aprofundada. Mas este caso é relevante do ponto de vista geoestratégico mundial. De facto, enquanto Obama tenta marginalizar a China com o acordo do Pacífico, na União Europeia trabalha-se a todo o gás para que a China possa ser um dos grandes investidores do Plano Juncker, disputando as vastas poupanças acumuladas pelas quatro instituições bancárias chinesas mais relevantes, algumas das quais já presentes em Portugal. Bem Bernanke tem em parte razão quando afirma que o chamado “savings glut” (doses massivas de poupança) é um problema da economia mundial e aí os chineses estão bem preparados para aparecerem com o cheque na mão e darem ao Plano Juncker o financiamento que os países europeus continuam renitentes em resolver. Sinal dos tempos.

Por outro lado, o governador do Banco de Espanha Emílio Linde, no exercício de uma estranha independência do Banco Central, veio a terreiro reclamando que a austeridade era um medida patriótica e propor novo embaratecimento dos custos do despedimento dos contratos sem termos, ao mesmo tempo que segundo o El País suprimiu os cortes que pesavam sobre a sua própria recuperação. Estranha independência de um regulador.

E, finalmente, ontem, 16 de junho, comemoraram-se oitocentos anos da Magna Carta e por isso temos assistido nos últimos dias a bravas discussões sobre o significado deste famoso documento, que na época não teve nem por sombras o significado que a história, mito ou não, lhe iria atribuir e que acabaria por ser sobretudo invocado pela antiga colónia, os EUA e que ainda hoje interpretamos como um travão crucial ao poder absoluto e discricionário.

Que tempos estes!

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