segunda-feira, 29 de junho de 2015

MARCELO E O PONTAPÉ POLÍTICO NA EUROPA


A “missa” do professor Marcelo tem vindo a tornar-se cada vez mais previsível e até, por vezes, inaudível por demasiado básica e/ou contraditória. Daí que queira hoje aqui saudar a inteligência com que, ressalvados pequenos detalhes, soube ontem abordar a questão greco-europeia.

Destaco dois pontos. O primeiro, a impiedosa denúncia que fez em relação à ausência de liderança europeia. Com expressões pouco meigas como as designações de mangas de alpaca e contabilistas ou as acusações de tratarem os assuntos com os pés, de não acertarem uma ou de evidências claras de falta de visão. Citando: “Porque eu, ao mesmo tempo que critico o senhor Tsipras, não deixo de criticar a Europa. A Europa não tem líderes, tirando porventura o senhor Draghi. Tem uma série de mangas de alpaca, de contabilistas, a senhora Merkel é o que está mais próximo de ser líder, é o que está mais próximo, os outros são uns mangas de alpaca, uns indivíduos interessadíssimos com o controlo das regras financeiras nem que o projeto político morra. Quer dizer, estão ali felizes e não percebem, primeiro, que há um problema chamado dívida grega que está lá e que é preciso um dia encarar e, depois, que há um problema chamado efeito político sistémico de uma saída da Grécia – não é económico, é político sistémico. Bom. O que levou o senhor Barack Obama a falar à senhora Merkel a dizer ‘veja lá se é possível o acordo para aguentar os gregos, porque isto é politicamente importante’.” E de seguida: “Nenhuma das partes está a ajudar. Não estão a ajudar os europeus pela falta de visão histórica – não sabem História, não sabem Geografia, não leram como é que começou a Segunda Guerra, toda a gente achava que Chamberlain era genial e tal – e por pequenas coisas de repente há – não se compara, bem entendido – mas há depois problemas que eram evitáveis e que decorrem de falta de visão. E da parte do senhor Tsipras, porque desesperado, com o partido dividido, perdendo a base de apoio, foi uma fuga para diante.”

(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)

O segundo ponto, enquadrado num central apelo esperançado numa solução, foi dirigido a Passos de modo muito crítico e direto, quase achincalhante. Dizendo: “Há aqui uma chance. Esta chance tem um problema, que é de facto a reação grega – exige que a Grécia também revele alguma boa-vontade nesse quadro. Mas tem de haver uma boa-vontade do lado dos europeus. E é por isso que eu penso, espero, nomeadamente agora que vai ter uma entrevista esta semana, que o primeiro-ministro, por uma vez, seja cuidadoso naquilo que diz sobre a Grécia. Eu sei que é tentador, em período pré-eleitoral, capitalizar com o exemplo grego e dizer ‘nós, portugueses, nós portámo-nos bem e vejam bem como nos safamos do que aqueles loucos que andam ali e têm feito e isto e aquilo e aqueloutro e tal’. É muito tentador. Mas é insensato. Além de parecer mal: é aquele menino bom aluno que faz queixinha do outro que realmente está a beneficiar de um critério mais largo do professor para conseguir passar ou ter uma nota e tal. Não se faz. Eu que fui bom aluno, não se faz; problema de educação, não se faz. Mas, independentemente do problema de educação, é um problema de sensatez, numa semana tão sensível, não contribuir para agravar a situação. Porque eu sei que o Banco Central Europeu tem mecanismos, e que a Europa tem mecanismos, e que muita gente diz que isto não é tragédia se a Grécia sair e tal e tal. Não é um problema de ser a tragédia, é um pontapé político no projeto europeu... É um pontapé político numa Europa que já está sem élan, sem liderança, sem alma, porque está sem alma, que realmente era dispensável.”

(João Fazenda, http://visao.sapo.pt)

Afinal, concluo, quando o tema toca componentes de séria perigosidade e de alcance estratégico ainda se pode esperar alguma coisa vinda do brilho do professor. Ao contrário da vaidosa e suada boçalidade de Marques Mendes, quase sempre impotente em voar acima de rastejante ou muito baixinho...

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