Com algumas, poucas, honrosas exceções – que vamos referenciando por aqui –, ouvir os debates na televisão portuguesa não apenas é horripilantemente confrangedor mas também assaz instrutivo quanto ao grau de miséria moral a que por cá se chegou. Esta noite, e ainda antes da nossa preferida “Quadratura da Círculo” (que agora vai começar), foi doloroso constatar como se concede tempo de antena à saloia e arrogante exibição de completa ignorância de um Marco António Costa ou à refinada e tecnocrática exibição de desonestidade intelectual de um Vítor Bento. Ambos em debate com gente de outro calibre, gente bem intencionada como Helena Roseta e Eduardo Paz Ferreira que levava na respetiva mala o poema “Atenas” de Hélia Correia para ler aos telespectadores em simultânea homenagem à autora e expressão de solidariedade para com o povo grego. E que interessante foi ver também a lata com que Bento veio dar seguimento às palavras do seu estimado pai político falando da inexperiência dos governantes gregos, um juízo que lhe assenta como uma luva depois da portentosa manifestação de experiência em matéria de gestão bancária de que deu mostras à frente do BES/Novo Banco!
Neste desgraçado quadro, voltou a ser gratificante ouvir Manuela Ferreira Leite – cada vez mais solta e em melhor forma – enfrentar um cada vez mais incomodado Paulo Magalhães e sublinhar que “as regras europeias são com certeza regras para cumprir, os caminhos para lá chegar e as formas para lá chegar com certeza que terão de ser diferentes”. E que “a solidariedade [que está na base da construção europeia] não é dar mais dinheiro aos pobrezinhos a partir dos países ricos para que os pobrezinhos fiquem menos pobres do que os mais ricos” mas que aquilo de se tratava era, isso sim, de “um crescimento e um desenvolvimento harmonioso dos países, coisa que não se está a verificar nem se consegue verificar com estas regras da moeda única”. Assim pondo no sítio devido “as regras europeias” – sem exceções! – a que vem aludindo essa figura presidencial abaixo de classificação que nos caiu em cima e que Eduardo Ferro Rodrigues tão pertinentemente caraterizou como portadora de uma “lógica tipo professor primário”...
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