sábado, 20 de junho de 2015

O ARMÁRIO


Razões do foro pessoal levaram-me a ser um leitor do “Sol” desde a primeira hora e razões da mesma ordem continuam a fazer com que ainda não tenha desistido de o ser, tanta porcaria entretanto reconhecidamente transcorrida. Adiante, que esse problema é meu e do meu orçamento.

O diretor do semanário desde a primeira hora, vindo de duradouras funções equivalentes no “Expresso”, é o arquiteto José António Saraiva (JAS). Um homem simpático e que tinha por inteligente e culto, muito também pelos pergaminhos familiares que ostenta (o pai António José e o tio José Hermano, designadamente), mas alguém que notoriamente se perdeu nas voltas de uma terrível miscelânea de vaidade e necessidade que o passar dos anos só foi podendo agravar.

No seu estilo muito próprio, entre um cartesianismo mecanicista e uma intuição descuidada, JAS tem inflexivelmente prosseguido a messiânica missão que há muito abraçou e lá escreve os seus longos editoriais, alguns ainda interessantes (cada vez menos) e outros absolutamente desfocados, descontextualizados ou até desonestos (cada vez mais). Mas é na revista que acompanha o jornal, a “Tabu”, que JAS assina uma coluna (“Viver Para Contar”) verdadeiramente espantosa e onde o seu narcisismo atinge cúmulos de ridículo e expressões de incrível delírio. Já para não falar de um reacionarismo que se lhe desconhecia por real ausência ou envergonhada omissão e que se vai manifestando de modo crescente à medida que envelhece e perde influência. Veja-se a título de mera ilustração uma das suas últimas pérolas, sintetizada na imagem que abre este post – bacocas até ao tutano são as tiradas morais que JAS dirige à livre expressão da homossexualidade: não só não é uma obrigação “sair do armário” como é “um disparate” o “orgulho gay” porque, pasme-se!, “orgulho tem-se naquilo que foi obtido com o nosso esforço”. Não é extraordinário?

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