sexta-feira, 12 de junho de 2015

MAIS UM FIGURÃO!




(Um, dois, três figurões)

O Financial Times (FT), embora não ocultando a sua natureza de jornal liberal e profundamente identificado com a glorificação do mercado, tem mantido em relação ao problema da Grécia uma atitude de abertura a todas as perspetivas sobre o fio de navalha em que o assunto se transformou.

Mas ao abrigo da chamada “op-ed page”, o FT tem acolhido nas suas páginas de opinião as posições mais inflexíveis e economicamente menos fundamentadas sobre a tragédia do euro. É esse o caso do economista alemão Hans-Werner Sinn responsável pela intoxicação da opinião pública alemã sobre os riscos dos desequilíbrios entre os países do norte e do sul na zona euro e um dos grandes responsáveis pela rejeição do princípio da mutualização da dívida. É também o caso de Niall Ferguson que tem conduzido a pretensa argumentação de que a vitória dos conservadores no Reino Unido teria representado a derrota póstuma de Keynes.

(O figurão Francesco Giavazzi)

A estes figurões juntou-se mais recentemente, Francesco Giavazzi (Bocconi University, Milão) com um contundente artigo sobre a Grécia, provocatoriamente intitulado de que “Os Gregos escolheram a pobreza, deixemos segui-los o seu caminho”. O artigo é uma peça eminentemente política, procurando conceder o aval da academia aos falcões europeus que jogam ou no afastamento da Grécia ou na sua submissão pura e simples.

Karl Whelan, economista irlandês dedica-lhe no Bull Market de 10 de junho uma desconstrução rigorosa das provocações de Giavazzi. Vale a pena sublinhar algumas dessas faltas de rigor desmontadas por Whelan.

A primeira consiste na desvalorização que Giavazzi faz das reformas que o setor público grego terá realizado. A verdade dos números divulgados pela Comissão Europeia anuncia que o emprego público grego foi reduzido de 907.351 indivíduos em 2009 para 651.717 em 2014, uma redução “ligeira” de 25%, cerca de 255.000 dispensas ou abandonos. Pequeno ajustamento? Não parece. E a passagem do Syriza pelo poder representou apenas a entrada de mais 15.000 funcionários, o que reportado aos 255.000 acima sublinhados é uma gota de água.
Giovazzi é um dos tais figurões que, conjuntamente com Alesina (Harvard) sempre defendeu que a austeridade era expansionista. Por isso, no seu artigo de opinião desvalorizou o esforço de redução do défice público grego. Puro descaramento. A Grécia reduziu o seu défice público de 15,6% do PIB em 2009 para 2,5% em 2014 e desafiam-se os mais temerários a encontrar uma redução de défice público tão violenta por esse mundo.

Mas não contente com tamanha falta de rigor, vem o argumento de que a Grécia é insensível às reformas necessárias. Whelan encontra um indicador interessante. No Doing Business Report de 2010 a Grécia estava no 109º lugar. Em 2015, o mesmo relatório apontava para a 61ª posição. Pura magia dos rankings? Os Gregos terão corrompido o Banco Mundial? Whelan mostra ainda que a Grécia foi a economia que realizou a mais significativa reforma no sistema de pensões, pelo que a negociação em curso de obrigar os gregos a um corte de pensões é pura chantagem.

A academia mediática está cheia de figurões deste calibre.

Poderei sem dificuldade transportar para a denúncia da postura destes figurões a recente reflexão de Bradford DeLong sobre as acusações que no debate americano são realizadas aos keynesianos:

Devo dizer que para mim se está a tornar cada vez mais claro o que é que está em causa quando um Robert Lucas diz que Christina Romer só é a favor de uma política fiscal expansionista porque isso corresponde à vontade dos seus patrões ou quando Russ Roberts diz que Paul Krugman é a favor de uma política fiscal expansionista porque é um socialista adepto de um grande governo. O que acontece é que estão a olhar-se ao espelho. O que estão a fazer é simplesmente a projetar-se. Pendam que temos a sua moral e os seus processos de pensamento e que somos tão ideologicamente cegos, partidários leais ou de vistas curtas como eles o são. Mas não somos como eles.  Somos por um governo que funcione, não um por um setor público pesado pelo simples facto de existir; intervenção pública onde seja necessária; as circunstâncias alteram os casos. Somos por uma esfera pública informada, não por uma que pense que um governo mais pesado e mais ativo é necessariamente melhor: queremos eleitores que compreendam os aspetos positivos e negativos do apoio tecnocrático a políticos que o reconheçam.”
Como eu compreendo Bradford DeLong. O ambiente está a ficar irrespirável.

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