quarta-feira, 10 de junho de 2015

UM SULTÃO A MENOS?

(Marian Kamensky, http://www.caglecartoons.com)


Importa que este espaço não deixe passar em claro a relevância democrática, o potencial efeito demonstrador e o positivo impacto geoestratégico do que aconteceu este domingo nas eleições legislativas da Turquia: os cidadãos obstaculizaram pelo voto as pretensões autocráticas do presidente Recep Tayyip Erdoğan que, eleito há quase um ano após um polémico desempenho de doze anos como primeiro-ministro, tinha transformado a consulta popular num verdadeiro referendo legitimador do seu próprio poder pessoal ao visar uma maioria de dois terços que lhe permitisse modificar a Constituição no sentido de um regime presidencial.

De facto, o partido islâmico e conservador AK (Justiça e Desenvolvimento), fundado e dirigido por Erdoğan, não só não logrou alcançar aquele objetivo que se fixara como acabou mesmo por perder a maioria absoluta no Parlamento (de 51% para 42% dos votos, passando de 312 lugares num total de 550 para apenas 258 doravante). Acresce que a participação foi muito elevada (86%) e que, pela primeira vez, quatro partidos políticos ultrapassaram a fasquia dos 10% que lhes permite aceder a uma representação parlamentar – o CHP (sociais-democratas), o MHP (nacionalistas de direita) e o HDP (Partido da Democracia dos Povos, um movimento de esquerda laica e com predominância curda que passa a dispor de 79 deputados).

Um resultado algo inesperado mas saboroso para todos quantos compreendem o especial papel da Turquia no xadrez político internacional, pela sua força militar e presença na NATO e enquanto ponte entre a Europa e o Médio Oriente, aspetos a que se somam a dominância da sua opção religiosa e o peso da sua dimensão populacional (e foi bom ouvir o Zé Pedro na SIC a comentar estas coisas enquanto fonte informada local que já é). Mas ainda vai correr muita água debaixo das pontes daquela magnífica cidade de Istambul...

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