terça-feira, 2 de junho de 2015

O CABRITO E OS SECRETOS DE ISALTINO



Enquanto vamos aguardando ansiosamente pela chegada aos escaparates da anunciada obra literária de Miguel Relvas – a ser apresentada por Durão Barroso, vejam lá a qualidade da coluna vertebral e dos rins deste nosso candidato presidencial honorário! –, seguramente o bestseller que marcará os próximos meses do nosso ajardinado País que alguns insistem em fazer florir em tons de laranja à força toda, há quem venha apropriadamente sugerindo a leitura do recentíssimo livro de Isaltino Morais, “A Minha Prisão” (aliás bem acompanhado de um sorrateiro subtítulo em capa que diz assim: “E se acontecesse consigo?”).

De entre os muitos críticos e especialistas que recensearam a matéria, destaco Bruno Nogueira na TSF (“Tubo de Ensaio”). Explicando que se trata de um diário em torno dos 429 dias de detenção sofridos pelo ex-presidente do município de Oeiras e ministro do Ambiente de Durão, Bruno sublinha a genuína e comovente veracidade dos episódios relatados. Como aquela inesquecível noite em que Isaltino e mais quatro colegas de reclusão partilharam um mais que delicioso cabrito assado acompanhado com queijo de Alcains com gosto a Rabaçal, uns biscoitos da Guia enviados pela ex-mulher e umas ótimas cerejas do Rui, tudo regado com Sumol e concluído pelo autor “a fumar um charuto de casamentos à janela da prisão, oferecido por um outro recluso”. Ou aquela “maravilhosa história do Nazir”, um muçulmano a quem Isaltino serviu secretos de porco por engano e que disse muito ter apreciado o seu tenro sabor a vitela sem que o autor tivesse tido coragem para o desmentir, antes qualificando a dita de barrosã – “lá fica o Nazir excluído do Paraíso, é melhor não lhe dizer nada”, conclui Bruno para logo de seguida colocar o dedo na ferida mais complexa: “o problema vai ser quando ele ler o livro e perceber que vai ter de se suicidar pelo fogo”.

Mas o certo é que Bruno não consegue conter a largueza dos seus encómios. Afirma a dada altura: “É uma bela obra em termos de descrição de refeições, é uma espécie de ‘Os Cinco na Prisão’, falta a Zé mas há uma história com um travesti que joga bem à bola”. E guarda o melhor para o fim: “Eu gostei de tal maneira que – ele não me leve a mal – dá imensa vontade que o Isaltino vá parar mais uns dez anos à prisão porque pode sair dali um Nobel”. Ao que nós chegamos!

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