domingo, 14 de junho de 2015

O “PERIGOSO” MARTIN WOLF

(Osborne procura regressar aos tempos Vitorianos legislando sobre excedentes orçamentais)



(Um toque de bom senso contra a demagogia conservadora)

Martin Wolf é uma personalidade demasiado conhecida para poder ser mal interpretado. Jornalista e comentador económico-chefe do Financial Times, lido em todo o mundo, é autor de pelo menos duas importantes obras: Why Globalization Works? (Yale University Press, 2004) e The Shifts and the Shocks . What we have learned – and Have still to Learn – from the Financial Crisis (Penguin 2014) e a ele se devem interpretações “out of the box” da crise financeira, embora seja um fervoroso apoiante da globalização.

Por isso, e seguindo a terminologia de Bradford DeLong, não pode ser apontado a dedo como um adepto de uma forte intervenção pública, não colhendo nesse sentido a ideia de que as suas posições são comandadas pelo gangue do BIG GOVERNMENT, escrevendo para agradar a seus amos e senhores.

Ora, esta contextualização inicial é crucial para entendermos a crítica contundente que Wolf deixou a 11 de junho à política económica dos conservadores após a estrondosa e inesperada (pela sua dimensão) vitória eleitoral do passado maio. Os conservadores já tinham conseguido enredar o Labour numa patética trapalhada explicativa pré-eleitoral quando os associaram a uma tripa –forra despesista, tarefa aliás facilitada quando o ministro das Finanças trabalhista de saída do poder resolveu ironizar com o seu colega conservador (George Osborne) que lhe sucedia dizendo-lhe que iria encontrar os cofres vazios (uma espécie de alter ego ao contrário de Maria Luís, a guardiã dos cofres cheios. Osborne tomou-lhe o gosto e decidiu passar a letra de lei a sua firme determinação em assumir excedentes fiscais no Reino Unido, regressando a uma devoção Vitoriana, e enredando de novo o Labour numa armadilha perigosa: o Labour só readquiria a confiança dos ingleses quando assumisse as suas culpas e prometesse seguir o cardápio de intenções vitorianas no plano fiscal de Osborne. Com esta promessa e a outra de não aumentar os impostos, isso equivaleria a amarrar o Labour a cortes inevitáveis na despesa, enredando-o numa omissão de alternativa de política macroeconómica.

Tenho defendido que a maioria atual em Portugal tem uma especial afeição pelo modelo de política económica dos conservadores tal como o têm praticado antes das eleições e estão decididos a manter tal orientação na próxima legislatura. A vitória sorriu aos conservadores e desde logo as cabeças de Passos e de Portas iluminaram-se, o enredo do despesismo dos adversários tinha dado votos. Porque não esperar uma reedição da cantilena?

O artigo de Wolf é uma desmontagem séria da ideia conservadora de que o endividamento público é uma espécie de diabo de que as almas sãs devem afastar-se. Wolf mostra que o fundamental é assegurar uma recuperação saudável e não legislar sobre excedentes orçamentais: “(…) A obsessão com o défice público não é saudável. O endividamento público não representa sempre o diabo. E o endividamento privado não representa sempre um bem. É bastante apropriado pedir emprestado para investir. E não menos, o tempo para reduzir o endividamento público chega quando a economia entrar em expansão e as taxas de juro se afastarem dos valores nulos.”

Será Wolf um perigoso seguidor do “BIG GOVERNMENT”? Terá ele um pacto do diabo com Keynes? Não me parece. Simplesmente bom senso e capacidade de compreender o momento atual das principais economias de mercado. Mas como o título do seu último livre interpela, talvez não tenhamos aprendido tudo o que é necessário sobre a crise financeira e as suas sequelas

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