(Vilnius)
(Como é que
ganhamos ou perdemos uma Cidade)
Tenho para mim que o modo como gente comum e em movimento pelo mundo
perceciona uma Cidade depende menos de indicadores ou de efeitos de marketing
urbano mais ou menos agressivo e muito mais do caráter aleatório do contacto
acidental que temos ou que nos é proporcionado com essa Cidade. Há assim
cidades que serão varridas para sempre das nossas memórias e outras que ficarão
indelevelmente gravadas nessas memórias e sobre as quais iremos sentir uma
vontade irresistível de as revisitar.
Enquanto refletia sobre esta matéria, veio-me à memória um texto de Augusto
de Castro, diretor do Diário Notícias nos tempos do fascismo, no qual ele compara
as Cidades a vários perfis de mulher. Esse texto que nunca consegui recuperar e
que me foi mostrado pelo meu colega e saudoso Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira
era uma verdadeira delícia de sensibilidade e faz-me hoje falta para descrever
impressões sobre Vilnius, capital lituana, com a qual e uma viagem final até
Riga termina este mini-périplo por terras do Báltico.
Foi uma Vilnius vibrante a transbordar de juventude e numa noite cultural e
popular que ocupava literalmente o centro histórico da Cidade (noite de sexta
para sábado) que representou o primeiro contacto com as suas atmosferas. Uma
população orgulhosa dos seus símbolos nacionais identitários, combativa que
baste ao longo da história, com avanços e recuos de independência, foco de duas
implacáveis ocupações, a nazi e a soviética, já para não falar da união temporária
com a Polónia, e que parece agora disposta a assumir sem tréguas a sua condição
europeia. Vilnius não será a Lituânia profunda, ainda marcadamente rural e certamente
Kaunas terá uma outra atmosfera ainda mais resistente, mas é seguramente um
farol do que o país poderá ser num futuro próximo, acaso vença a batalha da
coesão, em parte facilitada por uma percentagem elevadíssima de população
nativa, com peso muito limitado das comunidades russas e polaca.
Se a minha intuição estiver certa será a noite de sexta para sábado (de 19
para 20 de junho) que dominará as minhas perceções de Vilnius.
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