sábado, 20 de junho de 2015

VIVÊNCIAS E PERCEÇÕES URBANAS

(Vilnius)


(Como é que ganhamos ou perdemos uma Cidade)

Tenho para mim que o modo como gente comum e em movimento pelo mundo perceciona uma Cidade depende menos de indicadores ou de efeitos de marketing urbano mais ou menos agressivo e muito mais do caráter aleatório do contacto acidental que temos ou que nos é proporcionado com essa Cidade. Há assim cidades que serão varridas para sempre das nossas memórias e outras que ficarão indelevelmente gravadas nessas memórias e sobre as quais iremos sentir uma vontade irresistível de as revisitar.

Enquanto refletia sobre esta matéria, veio-me à memória um texto de Augusto de Castro, diretor do Diário Notícias nos tempos do fascismo, no qual ele compara as Cidades a vários perfis de mulher. Esse texto que nunca consegui recuperar e que me foi mostrado pelo meu colega e saudoso Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira era uma verdadeira delícia de sensibilidade e faz-me hoje falta para descrever impressões sobre Vilnius, capital lituana, com a qual e uma viagem final até Riga termina este mini-périplo por terras do Báltico.

Foi uma Vilnius vibrante a transbordar de juventude e numa noite cultural e popular que ocupava literalmente o centro histórico da Cidade (noite de sexta para sábado) que representou o primeiro contacto com as suas atmosferas. Uma população orgulhosa dos seus símbolos nacionais identitários, combativa que baste ao longo da história, com avanços e recuos de independência, foco de duas implacáveis ocupações, a nazi e a soviética, já para não falar da união temporária com a Polónia, e que parece agora disposta a assumir sem tréguas a sua condição europeia. Vilnius não será a Lituânia profunda, ainda marcadamente rural e certamente Kaunas terá uma outra atmosfera ainda mais resistente, mas é seguramente um farol do que o país poderá ser num futuro próximo, acaso vença a batalha da coesão, em parte facilitada por uma percentagem elevadíssima de população nativa, com peso muito limitado das comunidades russas e polaca.

Se a minha intuição estiver certa será a noite de sexta para sábado (de 19 para 20 de junho) que dominará as minhas perceções de Vilnius.

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