quinta-feira, 4 de junho de 2015

USING AND PRODUCING IDEAS

(Quinta Maria Izabel, Lda.)


(Ainda o Douro mas com matéria para uma reflexão mais ampla sobre a Região)

À boleia dos contributos seminais de Paul Romer (Two Strategies for Economic Development – Using and Producing Ideas, 1993) retomo as reflexões de ontem em torno das mais recentes evoluções da Região Demarcada do Douro, sobretudo do ponto de vista das relações entre as duas atividades mais salientes do ponto de vista da geração de valor, a produção de vinho do PORTO responsável por cerca de 2/3 do valor comercializado em mercado e de vinhos com denominação de origem DOURO.

Referi ontem que António Barreto, um dos grandes intérpretes do Douro e da sua evolução em toda a sua complexidade, fala da região como um território de encontros. Em entrevista a Manuel Carvalho do Público (21.11.2014), o sociólogo dizia: “E, finalmente, percebi, há uns anos, usando uma expressão que pedi emprestada a um historiador francês, que o Douro é um local de encontro. Um encontro entre os portugueses, os ingleses e o mundo; um encontro entre lavradores, os proprietários, os consumidores; um encontro entre políticos e os locais e se não fosse uma acção tectónica destes conjuntos, não havia vinho do Porto. O vinho do Porto não é um produto natural. É uma construção.”

A minha abordagem à região utiliza pelo contrário a produção e a difusão do conhecimento como elementos de análise, o que é particularmente relevante num território em que a produção de vinho do Porto se concretiza na primeira região demarcada do mundo (por conseguinte um longo processo de maturação de conhecimento, de transmissão intergeracional e onde a sua dinâmica mais recente, a produção de Douros de excelência em clara articulação com o terroir que a região constitui, tem apenas 20 anos. A região é, assim, um território em que se combinam a produção de conhecimento, a sua transmissão e disseminação ao longo do tempo, o seu contacto com conhecimento que vinha de fora e nos tempos mais recentes e ainda mais recentemente a incorporação de investigação científica de ponta na viticultura, na enologia e na identificação e valorização de castas. É dessa combinação e não propriamente na dicotomia produção versus disseminação (production and using) que a Região tem conseguido resistir e ganhar notoriedade em mercados de grande exigência como o americano. Nos tempos ainda mais recentes e combinando as atividades Douro e Porto, têm chegado à Região enólogos e investidores de dimensão internacional, que geram um novo ciclo de cruzamento de conhecimentos: Hubert de Boϋard, enólogo (projetos com a Poças Júnior), Roger Zannier, investidor na área têxtil (Quinta do Pessegueiro), Marcelo Lima e Tony Smith, investidores (Covela e Boavista), Bruno Prats, enólogo (Symington –Quintas de Roriz e de Perdis), João Carlos Paes Mendonça, investidor brasileiro (Quinta Maria Izabel Lda., com consultoria específica de Dirk Niepoort).

O Douro simboliza bem a necessidade que hoje os territórios e as organizações abertas ao exterior e à concorrência em mercados cada vez mais vastos e longínquos têm de combinar a acumulação de conhecimento e aprendizagem, baseados por vezes em conhecimentos e na espessura do tempo, com a abertura a novo conhecimento e a nova capacidade de empreendimento. Por vezes esse conhecimento que vem de fora entra sob a forma de equipamento, de software, de modelos organizacionais. No Douro, tem vindo sob a forma de encontros com gente que traz know-how, reconhecimento, notoriedade e por isso maior facilidade de penetrar em ambientes restritos e limitados. Também sob a forma de investigação científica, que renova conhecimento disponível.

O Douro é como diz António Barreto um local de encontro. Mas é cada vez mais uma metáfora preciosa dos rumos do desenvolvimento em pequenas sociedades que resistem, abrindo-se e não se fechando.

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