(Quinta Maria Izabel, Lda.)
(Ainda o
Douro mas com matéria para uma reflexão mais ampla sobre a Região)
À boleia dos contributos seminais de Paul Romer (Two Strategies for Economic Development – Using and Producing Ideas, 1993) retomo as reflexões de ontem em torno das mais recentes
evoluções da Região Demarcada do Douro, sobretudo do ponto de vista das relações
entre as duas atividades mais salientes do ponto de vista da geração de valor,
a produção de vinho do PORTO responsável por cerca de 2/3 do valor comercializado
em mercado e de vinhos com denominação de origem DOURO.
Referi ontem que António Barreto, um dos grandes intérpretes do Douro e da
sua evolução em toda a sua complexidade, fala da região como um território de
encontros. Em entrevista a Manuel Carvalho do Público (21.11.2014), o sociólogo
dizia: “E, finalmente, percebi, há uns
anos, usando uma expressão que pedi emprestada a um historiador francês, que o
Douro é um local de encontro. Um encontro entre os portugueses, os ingleses e o
mundo; um encontro entre lavradores, os proprietários, os consumidores; um
encontro entre políticos e os locais e se não fosse uma acção tectónica destes
conjuntos, não havia vinho do Porto. O vinho do Porto não é um produto natural.
É uma construção.”
A minha abordagem à região utiliza pelo contrário a produção e a difusão do
conhecimento como elementos de análise, o que é particularmente relevante num
território em que a produção de vinho do Porto se concretiza na primeira região
demarcada do mundo (por conseguinte um longo processo de maturação de
conhecimento, de transmissão intergeracional e onde a sua dinâmica mais
recente, a produção de Douros de excelência em clara articulação com o terroir
que a região constitui, tem apenas 20 anos. A região é, assim, um território em
que se combinam a produção de conhecimento, a sua transmissão e disseminação ao
longo do tempo, o seu contacto com conhecimento que vinha de fora e nos tempos
mais recentes e ainda mais recentemente a incorporação de investigação científica
de ponta na viticultura, na enologia e na identificação e valorização de
castas. É dessa combinação e não propriamente na dicotomia produção versus
disseminação (production and using)
que a Região tem conseguido resistir e ganhar notoriedade em mercados de grande
exigência como o americano. Nos tempos ainda mais recentes e combinando as
atividades Douro e Porto, têm chegado à Região enólogos e investidores de dimensão
internacional, que geram um novo ciclo de cruzamento de conhecimentos: Hubert
de Boϋard, enólogo (projetos com a Poças Júnior), Roger Zannier, investidor na área
têxtil (Quinta do Pessegueiro), Marcelo Lima e Tony Smith, investidores (Covela
e Boavista), Bruno Prats, enólogo (Symington –Quintas de Roriz e de Perdis), João
Carlos Paes Mendonça, investidor brasileiro (Quinta Maria Izabel Lda., com
consultoria específica de Dirk Niepoort).
O Douro simboliza bem a necessidade que hoje os territórios e as organizações
abertas ao exterior e à concorrência em mercados cada vez mais vastos e longínquos
têm de combinar a acumulação de conhecimento e aprendizagem, baseados por vezes
em conhecimentos e na espessura do tempo, com a abertura a novo conhecimento e
a nova capacidade de empreendimento. Por vezes esse conhecimento que vem de
fora entra sob a forma de equipamento, de software, de modelos organizacionais.
No Douro, tem vindo sob a forma de encontros com gente que traz know-how,
reconhecimento, notoriedade e por isso maior facilidade de penetrar em
ambientes restritos e limitados. Também sob a forma de investigação científica,
que renova conhecimento disponível.
O Douro é como diz António Barreto um local de encontro. Mas é cada vez
mais uma metáfora preciosa dos rumos do desenvolvimento em pequenas sociedades
que resistem, abrindo-se e não se fechando.
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