segunda-feira, 22 de junho de 2015

O MELHOR VEREADOR DA CULTURA DO PAÍS



Não tenho mais do que uma relação cordial com Paulo Cunha e Silva (PCS), o licenciado em Medicina que é professor da Universidade do Porto e que ganhou especial notoriedade pública na programação da “Porto 2001” e é agora o vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto. Pelo que a simpatia e admiração que crescentemente nutro por PCS nada tem a ver com um qualquer enviesamento de ordem pessoal, antes decorre da apreciação que vou podendo fazer do seu excelente exercício de funções na autarquia da minha cidade onde constitui – a par de Pizarro e Correia Fernandes – um verdadeiro “ganha-pão” para um presidente que me parece relativamente mal rodeado. Sendo que tal apreciação justifica ainda mais encómios devido ao facto, que PCS evoca em recente entrevista ao JN (alguns highlights acima), de estarmos perante um vereador da Cultura que distintamente quer e sabe separar o seu papel do que geralmente é atribuído/encomendado pelos nossos mayors aos titulares de responsabilidades naquela área, quase sempre associando-o a outros pelouros e atividades (designadamente a Animação) bem mais politiqueiramente remuneradoras – uma leitura em que era, aliás, exímio o aparolado antecessor de Rui Moreira que Deus haja.

Há algum tempo atrás, o “Jornal i” pediu a PCS que o levasse a conhecer a Cidade e tal deu origem a uma semana de reportagens diárias em torno. Que começavam nestes termos: “Exposições, encontros, dias comemorativos, teatros, música, cinema, atividades culturais, uma agenda cheia, quase alucinante, que também define Paulo Cunha e Silva. O raciocínio parece desencadear-se numa vertigem, as associações são, a espaços, improváveis, e a função autárquica parece ter-se tornado parte da sua própria personalidade. Se a mente acompanhasse o corpo dir-se-ia que estaria sempre a correr.” E o que escolheu PCS? Pois escolheu Serralves – “a casa antiga, magnífica, o museu que é uma das obras-primas de Álvaro Siza Vieira e um terceiro elemento fundamental: o parque e o jardim” –, a Casa da Música – “um edifício que associa o valor arquitetónico da obra do Rem Koolhaas com uma programação de muita exigência, de muita qualidade” –, o Palácio de Cristal – os jardins, a celebrarem 150 anos, a Avenida das Tílias, o Pavilhão Rosa Mota com “aquela cúpula que parece uma nave espacial do arquiteto Carlos Loureiro”, o mais recente espaço de biblioteca pública, auditório e galeria municipal –, o património – “o riquíssimo património, mundial, que é a Baixa do Porto”, um “espaço antigo” a que se pretende dar “uma grande vitalidade e uma grande presença na contemporaneidade da cidade” – e o Rivoli – “um teatro completamente devolvido à cidade, com taxas de ocupação muito altas” a partir de uma programação interdisciplinar cujo eixo central é a dança.

Escolhas principais aparentemente óbvias por incontornáveis. Mas também atravessadas por alguns detalhes de mais fino recorte. Como as sub-escolhas, da casa de banho de Serralves – “que vive entre essa frugalidade do absolutamente necessário e a possibilidade de ser um território de relaxamento e fruição”, tem magníficas vistas e um estilo Art Déco “que estabelece essa articulação entre o luxo e a depuração” – à sala VIP da Casa da Música – “o Rem Koolhaas, tendo toda esta arquitetura tão secante, tão árida, num edifício com arestas vivas e cruentas, faz aqui um exercício barroco” e “recorre à Viúva Lamego para reproduzir várias cenas musicais nacionais, criando uma espécie de nova historiografia musical portuguesa a partir destas imagens” –, da galeria Almeida Garrett – “um local que está a ser reconfigurado como espaço expositivo” e onde foram batidos recordes surpreendentes no quadro de uma exposição refletindo a cena artística africana contemporânea – ao understage do Rivoli – “ele próprio se transformou numa linha programática, sobretudo na área da música mais alternativa, electrónica, um lado experimental, mais diferenciado, muito interessante e que corresponde a qualquer coisa que ainda não existia na cidade”, numa lógica descrita como de “cruzamento de territórios na cidade líquida” – e à Rua de D. Hugo – junto à Sé, um dos pontos de partida para o centro histórico da cidade, com a proximidade à muralha Fernandina e “um dos exercícios mais primitivos de urbanização a partir da cidade medieval”.

Vai uma visitinha para reconhecimento dos locais?

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