quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PRO-MARKET OU PRO-BUSINESS?

Numa conversa acalorada com o meu filho Hugo na sequência da comunicação-fava de Vítor Gaspar da tarde de ontem, carpindo algum veneno pela violência das medidas anunciadas e sobretudo pelo desplante de as considerar uma solução, sugeriu-me uma dica aparecida no The Economist de há menos de um mês. Não tinha sido então indiferente a essa referência, mas a minha indisciplina de leitura e, certamente na altura, a falta do caderninho que serve de registo inspirador para muitos dos posts terá colocado no esquecimento esta ideia.

Do que é que se trata e em que medida se ajusta cada vez mais à situação portuguesa?

Luigi Zingales, fotografia acima, é professor na Booth School of Business da Universidade de Chicago em entrepreneurship e finanças, afinal estamos no coração ou no epicentro do mainstream economics que irradiou a partir daí para todo o mundo, ainda hoje reduto dos irredutíveis, ainda que com algumas brechas, Richard Posner, por exemplo.
Zingales traz para a análise do que tem vindo a chamar-se capitalismo de compadrio (crony capitalism) propostas muito interessantes. O que não deixa de ser uma constatação muito relevante. Sim! O capitalismo de compadrio não é um exclusivo de Krugman e companhia. No reduto dos irredutíveis há quem pense com imaginação sobre o assunto. Estou curioso por ler na próxima paragem a sua última obra: “A Capitalism for the People: Recapturing the Lost Genius of American Prosperity” (Um capitalismo para as pessoas: recapturando o génio da prosperidade americana).
Zingales distingue habilmente entre governos “pro-market” e “pro-business”. O que os distingue? Os primeiros procuram governar no sentido de criar efetivas condições de liberdade de concorrência nos mercados e podem mesmo chegar ao ponto de criticar o universo dos negócios quando, por via do que temos vindo a designar neste blogue de captura do Estado, fazem o possível e o impossível para viciar o jogo desse mercado. Os mais conservadores podem ser defensores envergonhados do “pro-market”, receando investir contra os captores por supostamente tal crítica ou denúncia poder ser entendida como desvio face ao mercado. Quanto aos segundos não há que enganar! São governos que governam para interesses concretos. A defesa do mercado é uma máscara. Vivem da proteção aos que capturam o Estado e não hesitam em atingir outros interesses para defender os seus patrocinadores, amigos, pretensos mecenas.
Segue-se um mero exercício de aplicação.
Questão prática: o governo atual, tão pomposamente autodesignado de liberal, praticará uma governação “pro-market” ou “pro-business”?
Parece não ser necessário ter uma grande cabeça para compreender que estamos claramente perante um governo “pro-business”, que governa para grupos de interesses de estimação, sobre os quais faz algumas cócegas de apelo à participação na via da austeridade. Aliás, é muito curioso seguir com atenção e acompanhar à lupa tomadas de posição públicas de grandes empresários portugueses e diferenciá-las consoante os alocamos ao universo do “pro-business” ou do “pro-market”. Ontem, Belmiro de Azevedo, na sua simplicidade que chega por vezes a roçar o simplismo das ideias, dizia no meio do turbilhão de reações mais ou menos isto: agradeço a poupança que a redução da taxa social única vai proporcionar, mas tenho a certeza que vamos perder, não sei quanto, nas vendas por força do confisco do consumo que a austeridade adicional irá determinar. Dispenso-me, caro leitor, de indicar alguns testemunhos em contraponto: salamaleques, blá-blá, as medidas são duras mas necessárias, arrepiar caminho, etc, etc. Seguramente que na grande maioria desses testemunhos iremos encontrar beneficiários da governação “pro-business”. Pudera!

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