A
influente coluna de opinião Lex era dedicada a Portugal no “Financial Times” de
ontem. E, sob o título “Portugal – failing to stay the course” (deixando
de manter o rumo), demonstrava bem o estado da nossa tão
governativamente badalada credibilidade externa. Como segue, em tradução livre
e com a devida vénia:
“Falemos de ‘unfriending’. O
primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, lamentou-se recentemente no Facebook
sobre o horrível trabalho que tinha apenas anunciando cortes, cortes, cortes.
Cerca de 99 mil mensagens depois – a maioria das quais hostis –, ele deve
ter-se arrependido de o ter feito. A reação, acoplada de uma furiosa oposição sindical
a uma medida de corte nas contribuições patronais para a segurança social, mostra
quão polarizado Portugal se tornou enquanto as atenções se focaram em Espanha. O
que é preocupante.
Estranhamente, os indicadores portugueses
parecem sugerir que tudo está ok. Os ‘yields’ sobre as suas obrigações a 10, 5
e 2 anos estão bem abaixo dos seus maximos de 2012. Mas um olhar mais de perto
sugere que o país combina crescentemente alguns dos piores aspetos da Grécia e
da Irlanda – uma tendência para falhar objetivos acordados com os seus credores
e um setor bancário arrasado. As metas de défice orçamental para 2012 e 2013 foram
revistas em sentido ascendente para 5% e 4%, enquanto o FMI estima que a
economia encolherá 3% este ano e 1% no próximo. E também o crédito se mantém apertado.
O dilema financeiro e económico de
Portugal afetou o mercado de capitais. Este ano, o desempenho do índice PSI20 foi
pior do que o do mercado europeu alargado em um quinto; quase 70% da sua
capitalização bolsista de 15 mil milhões de euros é agora explicada por quatro
companhias – os grupos energéticos Edp e Galp, a Portugal Telecom e a Jerónimo
Martins, um grupo de distribuição que obtém dois terços da sua receita na
Polónia. Os valores dos bancos desabaram para níveis irlandeses – as ações do Banco
Comercial Português estão a ser transacionadas abaixo de 0,10 euros, por
exemplo.
A decisão de descartar a mudança
na segurança social mostra quão tímido se tornou o Governo em face da pressão
pública. O resgate de Portugal sempre incluiu demasiada Europa e pouco FMI. O
Fundo precisa de manter Lisboa no rumo para evitar que o país se torne noutra
Grécia.”
Pondo
a coisa em linguagem mais rasteira: “a malta” distraiu-se com os vizinhos
espanhois e, quando deu por ela, aquilo estava em mísero estado – incumprimento
de metas, falta de dinamismo estrutural, financiamento da economia estrangulado,
agitação social, incapacidade política; em suma, numa crescente combinação de “alguns
dos piores aspetos da Grécia e da Irlanda” (sic). Inquietante e revelador!
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