Pertencem ambos ao mesmo XIX Governo Constitucional da República
Portuguesa. Estavam os dois em visita oficial à República Federativa do Brasil.
Mas, solicitados a comentar a alocução de Passos ao País, assim antagonicamente
reagiram:
·
o
estadista e patriota ministro dos Negócios Estrangeiros, circunspecto: “Eu percebo a vossa pergunta e percebam que
eu, quando tenho de representar o País, tenho que ter uma regra que é fazer
política externa e nada mais.”
·
o garboso e reaparecido ministro Adjunto e dos
Assuntos Parlamentares, prolixo: “O
primeiro-ministro apresentou medidas, que não são medidas novas, são medidas
que visam substituir as medidas que o Tribunal Constitucional chumbou.
Portanto, eram medidas que os portugueses já sabiam que eram inevitáveis.
Tentamos encontrar aquelas que são a melhor solução para que Portugal possa
resolver os seus problemas. E devo dizer uma coisa: muitos daqueles que
criticam, mas que não apresentam alternativas, não têm o direito, num momento
em que muitos portugueses estão a passar por situações particularmente difíceis
em que se pedem sacrifícios, de pedir que aqueles que são os responsáveis
cruzem os braços perante a crise.” E mais, visivelmente contente pela
oportunidade de o ouvirmos: “Não sou
comentador político, essas são matérias para os comentadores políticos. Um
governo o que tem é: governar. Essa é a responsabilidade dos membros do
governo, assumir responsabilidades pelo caminho que estão a seguir. Nós sabemos
desde o primeiro dia, desde o dia em que tomamos posse, que sabíamos que a
situação em que Portugal se encontrava era uma situação difícil, e desde o
primeiro dia que temos assumido a responsabilidade de não criar uma ilusão
sobre a realidade; o Governo nunca faltou à verdade, o Governo nunca mentiu
sobre a realidade do país.” E ainda, denunciando corajosamente os
socialistas e enaltecendo a sua missão: “Não
nos peçam para fazermos num ano aquilo que outros estragaram em seis. E,
portanto, o caminho que aqui se coloca – sabemos nós – são de medidas difíceis
que têm de ser assumidas com determinação, não cruzando os braços para que
sejamos capazes de ultrapassar os nossos problemas. Ninguém mais do que os
membros do Governo sentem a importância da dificuldade das decisões. Nós
sabemos que são decisões muito difíceis.” E, por fim, humilde mas
consciente do dever cumprido: “Os
portugueses têm hoje um Governo que não cruza os braços perante os problemas,
sabendo nós das dificuldades – nós somos os primeiros a senti-lo, somos os
primeiros a ficar preocupados com muitas situações que acontecem no nosso País
e por isso temos tido medidas sociais para apoiar os pensionistas, os mais
desprotegidos da nossa sociedade. (...) Os portugueses sabem, pela realidade dos
mercados e o reconhecimento internacional, que os sacrifícios que estamos a
pedir têm tido o reconhecimento daqueles que nos avaliam, de que Portugal está
hoje melhor do que estava antes.”
É afinal simples a explicação para tão estranha charada: o
primeiro terminava o seu rodopio entre a metrópole paulista e a capital
federal, enquanto o segundo acabava de chegar à animada noite carioca.
Entendeu, mermão?
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