O desenho de Enrique Flores acima reproduzido vale bem
mais do que o artigo do El País no âmbito do qual ele surge como ilustração.
A meu ver, ele pode ilustrar perfeitamente o dilema político
e não só do primeiro-ministro Rajoy que permanece no limbo da dúvida quanto a
pedir ou não o resgate, tirando partido da não canónica intervenção que o BCE
se propõe realizar adquirindo ilimitadamente títulos da dívida pública com
maturidade inferior a 3 anos.
Uma interpretação linear das dúvidas de Rajoy,
corroborada pela história de não convencimento que a ascensão do líder dos
populares espanhóis tem em seu desfavor, dirá que se trata de simples
aproveitamento político. Não o pedirá provavelmente antes das eleições galegas
onde também se joga muito do futuro do PP nesta legislatura. Rajoy sabe
concretamente que a pretensa heterodoxia do BCE tem por contrapartida a mais
ortodoxa via punitiva da austeridade a toda a força. Afinal, nada mais do que o
jogo do esconde esconde com as posições alemães. Contraria-se, por um lado e
massajam-se as mais profundas convicções alemãs, por outro.
Mas as dúvidas de Rajoy podem ser provavelmente mais
profundas. Na verdade, as evidências apontam para que as opções de resgate
financeiro estão até agora longe de poderem ser consideradas uma solução
perfeita. Não se trata apenas de danos colaterais, é a própria tendência para a
autodestruição do modelo de ajustamento que está em causa. A fadiga de
ajustamento que o FMI já diagnosticou como um risco sério não passa de um
conceito suave para encobrir o óbvio, que é o risco do modelo de ajustamento se
condenar a ele próprio, não entendendo os seus promotores que o contexto da
economia global em que ele é decretado interessa e de que maneira.
Morte por afogamento ou salvamento em direção à forca é
uma metáfora crua que talvez tenha passado já pela cabeça dos populares espanhóis.
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