O que se vai passando no Reino Unido em matéria de debate
económico deve-nos merecer toda a nossa atenção, pois estamos perante uma
economia na qual as questões de indeterminação em torno da zona euro não
interferem nesse debate. Tem assim especial interesse o confronto entre a ação
do Banco de Inglaterra e do Banco da Reserva Federal americano, pois podem
estar aqui implícitos diferentes modelos de gestão macroeconómica.
No Reino Unido está hoje bastante vivo um debate sobre o
significado dos juros baixos a que a economia britânica pode financiar-se. A
teoria oficial sustenta que os baixos juros são um indicador de confiança dos
mercados, posição difícil de entender pois o risco soberano da dívida pública
inglesa nunca foi considerável. De facto, associar a descida das taxas de juro
a aumento da confiança falha nessa perspetiva, pois ela nunca falhou. Essa
interpretação conduz à ideia de que o comportamento das taxas de juro seria
determinado pelas expectativas sobre a evolução do défice público.
Nos últimos tempos, o economista Jonathan Portes, diretor
do National Institut of Economic and
Social Research, tem-se destacado no avançar para o debate com interpretações
que contrariam a interpretação oficial. Portes sustenta que o fator
determinante das baixas taxas de juro são as perspetivas de baixo crescimento. Por
mais estranho que o possa parecer, esta tese conduz exatamente ao entendimento
contrário da interpretação oficial, ou seja, é a falta de confiança nas
perspetivas de crescimento que explica a baixa das taxas de juro. E daí que a
política de Cameron e Osborne esteja presa desta interpretação viciada:
continua amarrada ao equilíbrio orçamental receando a subida das taxas de juro,
quando o risco disso acontecer é, para o benefício provável, mínimo.
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