segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ALGUNS MITOS EM TORNO DOS JUROS BAIXOS



O que se vai passando no Reino Unido em matéria de debate económico deve-nos merecer toda a nossa atenção, pois estamos perante uma economia na qual as questões de indeterminação em torno da zona euro não interferem nesse debate. Tem assim especial interesse o confronto entre a ação do Banco de Inglaterra e do Banco da Reserva Federal americano, pois podem estar aqui implícitos diferentes modelos de gestão macroeconómica.
No Reino Unido está hoje bastante vivo um debate sobre o significado dos juros baixos a que a economia britânica pode financiar-se. A teoria oficial sustenta que os baixos juros são um indicador de confiança dos mercados, posição difícil de entender pois o risco soberano da dívida pública inglesa nunca foi considerável. De facto, associar a descida das taxas de juro a aumento da confiança falha nessa perspetiva, pois ela nunca falhou. Essa interpretação conduz à ideia de que o comportamento das taxas de juro seria determinado pelas expectativas sobre a evolução do défice público.
Nos últimos tempos, o economista Jonathan Portes, diretor do National Institut of Economic and Social Research, tem-se destacado no avançar para o debate com interpretações que contrariam a interpretação oficial. Portes sustenta que o fator determinante das baixas taxas de juro são as perspetivas de baixo crescimento. Por mais estranho que o possa parecer, esta tese conduz exatamente ao entendimento contrário da interpretação oficial, ou seja, é a falta de confiança nas perspetivas de crescimento que explica a baixa das taxas de juro. E daí que a política de Cameron e Osborne esteja presa desta interpretação viciada: continua amarrada ao equilíbrio orçamental receando a subida das taxas de juro, quando o risco disso acontecer é, para o benefício provável, mínimo.

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