O Quadratura do Círculo de ontem foi marcado pelo tema
das alternativas ao atual plano inclinado em que a trajetória anunciada para o
resgate financeiro se encontra.
O tema é central, pois grassa por aí a ideia da ausência de
alternativas, argumento que tem constituído a defesa principal da atual
maioria, apoiada sobretudo na situação de partida, a incapacidade de acesso a
financiamento por parte do Estado e da banca.
Também neste espaço de discussão, o debate não foi favorável
ao Governo. A proteção que normalmente António Lobo Xavier lhe concede, e neste
tema a sua posição é próxima da defesa da inexistência de alternativas, foi bastante
obscurecida pelo reconhecimento claro e inequívoco da incompetência, impreparação
e delírio na gestão política de todo o processo. Aliás, essa evidência está
hoje já enraizada na perceção do cidadão comum, gerando uma efetiva
desautorização de praticamente toda a prática governativa, que intervenções
isoladas e desajeitadas de alguns ministros não fazem mais do que reforçar
(caso, por exemplo, dos disparates de Paula Teixeira da Cruz). A argumentação
de José Pacheco Pereira emergiu no debate como implacável. A trajetória atual
degradou-se de tal modo que já não pode considerar-se uma alternativa viável. Mas
a já referida incompetência e impreparação na gestão política do processo tem
sistematicamente reduzido as margens de manobra de alternativas possíveis,
alternativas entendidas no sentido de diferentes opções de governação para
aplicar o acordo de resgate financeiro.
E o que é verdadeiramente surpreendente (ou se calhar não)
é que, apesar dos esforços de António Costa, retenho de ontem apenas a ideia da
revitalização urbana como instrumento de investimento e criação de emprego a
curto prazo, o PS aparece marginal a todo este debate das alternativas. Compreende-se
que o PS aspire a uma maturação mais lenta da consolidação de um projeto de
governação. Mas convém não perder de vista que o tempo político está em
profunda aceleração. De tanto esperar pode soar mesmo a ausência de alternativa
de governo.
Seria bom que as palavras sensatas de Carlos Costa,
Governador do Banco de Portugal, suscitassem um amplo debate. Sem falsa modéstia,
já aqui fiz eco de tais ideias. O país necessita de estabilizar a carga fiscal
que a sociedade portuguesa está disposta a suportar, incluindo o seu caráter
progressivo e distributivo. Só depois faz sentido discutir as escolhas públicas
que o futuro exige.
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