Já muitos sobre a
matéria se pronunciaram e outros tantos a dissecaram, da incompreensão quanto
ao meteórico surgimento daquela estranha decisão anunciada a 7 de setembro à desastrada
forma que a sua comunicação assumiu, da respetiva paternidade incógnita à obscuridade
que continua a persistir em seu torno depois da reunião do Conselho de Estado.
Refiro-me, obviamente, à chamada questão da TSU.
Porque a
concatenação dos factos e dos números não me sai da cabeça. Sobretudo porque imbirro
quando uns espertalhaços tentam fazer dos outros parvos:
·
em plena quinta avaliação da Troika,
Passos vem anunciar aos portugueses que vai alterar as taxas da TSU em prejuízo
dos trabalhadores e em benefício dos empregadores com o objetivo de fomentar o
emprego e a competitividade, o que lateralmente proporcionaria 500 milhões de
euros adicionais aos cofres do Estado;
·
depois, sabe-se que a Troika irá
permitir que furemos o limite do nosso défice público de 2012 e determinar
novas metas para os anos seguintes (4,5% e 2,5% - porquê 2,5 e não o número
mágico europeu de 3? -, respetivamente);
·
em seguida, percebe-se que o Governo
aproveita a confusão para confessar mais uma derrocada do défice, agora para
níveis já superiores a 6%;
·
por fim, e após o País ter descido às
ruas e as elites se enredarem em repetidos raciocínios circulares, o Governo
abdica “corajosamente” da competitividade e acrescenta “en passant” a necessidade
de 2500 mil milhões de euros de novos impostos (ainda por esclarecer, mas com
as taxas e os escalões do IRS já sujeitos a requisição), sendo que a reposição
de parte dos subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decorrente do acórdão
do Tribunal Constitucional) andava pelos 2000 milhões.
Tudo isto sem
falar do crescimento económico negativo que realmente virá a ocorrer em 2012 e 2013 ou
dos enormes esforços adicionais apontados para 2014. Nem das pinças com que tem sido tratado o problema espanhol ou – lembram-se das juras de que “nós não somos a Grécia”? – do “haircut” de que já foi alvo aquele leproso país e do agora “mais tempo” que começa a fazer caminho pela boca de Hollande e Lagarde (e elevará o perdão total para valores próximos dos 200 mil milhões de euros, com o objetivo – pasme-se pelo “nonsense”! – de em 2020 fazer chegar a dívida pública aos 120% do PIB de que nos estamos a abeirar em 2012). Nem – credo abrenúncio! – de tudo
quanto foi dito sobre o chorado defunto em que hoje se transformou o PEC 4. Falta de senso e
competência, acrescidas de uma covarde reverência e de um imenso descaramento, tudo
são meras questões menores para meninos da primeira fila andando em más companhias…
Do alto da sua cultura
camoniana, Passos trouxe-nos hoje a mísera e mal declamada consolação de uns “ventos
favoráveis”! Bem melhor terá dito João Salgueiro quando afirmou que o atual Governo “não estava preparado para
tomar conta do poder”!
Sem comentários:
Enviar um comentário