quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PONTO DE ORDEM À MESA


Já muitos sobre a matéria se pronunciaram e outros tantos a dissecaram, da incompreensão quanto ao meteórico surgimento daquela estranha decisão anunciada a 7 de setembro à desastrada forma que a sua comunicação assumiu, da respetiva paternidade incógnita à obscuridade que continua a persistir em seu torno depois da reunião do Conselho de Estado. Refiro-me, obviamente, à chamada questão da TSU.

Porque a concatenação dos factos e dos números não me sai da cabeça. Sobretudo porque imbirro quando uns espertalhaços tentam fazer dos outros parvos:

·         em plena quinta avaliação da Troika, Passos vem anunciar aos portugueses que vai alterar as taxas da TSU em prejuízo dos trabalhadores e em benefício dos empregadores com o objetivo de fomentar o emprego e a competitividade, o que lateralmente proporcionaria 500 milhões de euros adicionais aos cofres do Estado;

·         depois, sabe-se que a Troika irá permitir que furemos o limite do nosso défice público de 2012 e determinar novas metas para os anos seguintes (4,5% e 2,5% - porquê 2,5 e não o número mágico europeu de 3? -, respetivamente);

·         em seguida, percebe-se que o Governo aproveita a confusão para confessar mais uma derrocada do défice, agora para níveis já superiores a 6%;

·         por fim, e após o País ter descido às ruas e as elites se enredarem em repetidos raciocínios circulares, o Governo abdica “corajosamente” da competitividade e acrescenta “en passant” a necessidade de 2500 mil milhões de euros de novos impostos (ainda por esclarecer, mas com as taxas e os escalões do IRS já sujeitos a requisição), sendo que a reposição de parte dos subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decorrente do acórdão do Tribunal Constitucional) andava pelos 2000 milhões.

Tudo isto sem falar do crescimento económico negativo que realmente virá a ocorrer em 2012 e 2013 ou dos enormes esforços adicionais apontados para 2014. Nem das pinças com que tem sido tratado o problema espanhol ou lembram-se das juras de que “nós não somos a Grécia”? do “haircut” de que já foi alvo aquele leproso país e do agora “mais tempo” que começa a fazer caminho pela boca de Hollande e Lagarde (e elevará o perdão total para valores próximos dos 200 mil milhões de euros, com o objetivo pasme-se pelo “nonsense”! de em 2020 fazer chegar a dívida pública aos 120% do PIB de que nos estamos a abeirar em 2012). Nem credo abrenúncio! de tudo quanto foi dito sobre o chorado defunto em que hoje se transformou o PEC 4. Falta de senso e competência, acrescidas de uma covarde reverência e de um imenso descaramento, tudo são meras questões menores para meninos da primeira fila andando em más companhias…

Do alto da sua cultura camoniana, Passos trouxe-nos hoje a mísera e mal declamada consolação de uns “ventos favoráveis”! Bem melhor terá dito João Salgueiro quando afirmou que o atual Governo “não estava preparado para tomar conta do poder”!

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