quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SURPRESA CUMULATIVA



As intervenções públicas do primeiro-Ministro têm o condão de nos projetar num clima de surpresa permanente, diria mesmo de surpresa cumulativa, pois o espanto vai aumentando com as sucessivas intervenções. E os circunstancialismos da sua agenda pública têm-nos transportado nos tempos mais recentes para declarações em almoços. Por mais dignidade que tais eventos veiculem, esta alternância de alocuções oficiais e de discursos em eventos desta natureza não contribui em nada para as levar a sério.
Hoje, Passos Coelho manifestou publicamente o seu desconforto com a sua não compreensão da reação de alguns empresários relativamente à TSU. Não sei que representatividade têm os casos invocados pelo primeiro-Ministro de empresários que terão referido receios de represálias por parte dos trabalhadores por causa da alegada (segundo Passos Coelho) transferência de rendimento do trabalho para o capital. A obsessão ou o trauma da TSU pelos vistos não passarão tão cedo. A invocação do tema das represálias não parece muito feliz e não constitui de todo a reação dominante que ressalta da rejeição manifestada pelos empresários quanto à controversa medida. Passos Coelho continua a não entender o significado profundo do que propôs nas condições atuais do país e das empresas. A maneira como invoca a sua surpresa pelo teor da reação dos empresários evidencia exatamente isso: “Se a visão que temos das empresas não é a de instituições relevantes, mas estão reconduzidas, por qualquer razão, à dialética do trabalho e do capital, então teremos progredido muito pouco ao longo destas dezenas de anos de aprendizagem democrática, e isso prometeria muito pouco para o nosso futuro”.
Ou seja, não entendeu rigorosamente nada. O que constitui mau prenúncio do que poderá vir por aí. O que contrasta por exemplo com a sensatez de uma personalidade como António Saraiva, presidente da CIP, bem mais ponderado do que o permanentemente enjoado Ferraz da Costa. E tudo resulta da vivência de uma empresa que Saraiva seguramente tem, bem diferente da do primeiro-Ministro. Em guarda, por precaução.

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