segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A TSU … NAMI



José Ignacio Torreblanca, professor de ciência política, escreve hoje no El País que há duas maneiras de nos colocarmos perante a crise atual: uma que é racional e é baseada na autocrítica e outra, irracional, que apela à autoflagelação.
Aplicando esta dicotomia à situação política portuguesa e ao plano inclinado da governação, diria que tem predominado a perspetiva da autoflagelação. O que não me deixa de intrigar, pois, aparentemente, no Governo há mais homens de avental do que adeptos do cilício autopunitivo. Mas, a partir do momento em que o governo atual, submisso e reverente, assumiu a postura do aluno disciplinado e internalizou a via punitiva, tudo se passa como se cada governante queira encucar em cada português a ideia do cilício quotidiano que nos há de conduzir à via redentora dos 3% de défice público.
Só esta perspetiva punitiva de um cilício em cada medida pode explicar a impreparação e a perspetiva castigadora da TSU.
Ora, saudavelmente, a maioria dos portugueses rejeitou internalizar essa ideia de culpa, com os cambiantes mais curiosos.
Que os trabalhadores a tenham rejeitado, sobretudo porque a medida é injusta, desigual, iníqua e quebra o nexo que deve existir entre uma contribuição e um benefício, revela antes de mais a sábia perceção popular da injustiça.
Mas “la grande bagarre” veio dos lados do patronato, no qual temos rejeição para todos os gostos, o que bem revela a total impreparação que esteve subjacente a esta descoberta, que ainda estou para perceber de que centro de “irracionalidade” veio: do próprio Passos Coelho e da sua envolvente mais próxima? Vítor Gaspar? Do pequenino mas sabidola Moedas? Mistério!
A Associação Empresarial de Portugal deu uma no cravo, outra na ferradura, TSU sim ou talvez, desejavelmente apenas nos transacionáveis e com neutralização dos efeitos sobre o rendimento disponível dos trabalhadores.
A CIP, aparentemente devolve a medida ao governo, queixando-se compreensivelmente do ataque implícito à concertação social, demonstrando maior sensibilidade do que o governo na compreensão do processo de aproximação anteriormente concretizado e agora enviado às malvas com a maior das arrogâncias.
Por sua vez, no resiliente setor do calçado, diretamentede Milão, os industriais criticam ferozmente a decisão do Governo e prometem contrariar o descontentamento dos seus funcionários.
Como pode depreender-se destes exemplos, a tudo isto chama-se incapacidade total de perceber o contexto futuro de uma medida, total irresponsabilidade na sua preparação.
E, para terminar, uma equipa de investigadores economistas da Universidade do Minho teve hoje o seu momento mediático de glória, que deve compensar a perda dos dois subsídios e outras sobretaxas, demonstrando hoje através de trabalho dirigido para o efeito que, afinal, a TSU destruiria mais emprego do que criaria, sobretudo por via do efeito sobre o rendimento disponível. Já ontem o economista italiano radicado em Portugal que realizou o primeiro trabalho sobre o tema se tinha demarcado também da medida.
Claro que com toda esta desorientação alguém haveria de vir a terreiro lembrar o instrumento da autoflagelação, recordando que apesar da recessão a via punitiva não pode ser abrandada. Obviamente a senhora Merkel, alertando o seu aluno que o tempo não está para aliviar a pena.

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