sábado, 1 de setembro de 2012

REGRESSADOS



Registo hoje com prazer o regresso do Freire de Sousa às lides deste blogue e também os regressos ao trabalho das crónicas do Público de Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Bons regressos, só esperando que este último não nos brinde nos próximos dias com uma crónica a descrever os dissabores de um elitista a disputar caminhos dos mais vulgares como aconteceu ano passado com a sua história de uma ida ao Algarve. Ficamos com as crónicas e dispensamos o enfado do seu contacto com a triste realidade do realismo quotidiano.
Mas as crónicas de regresso de JPP e de VPV vão no sentido de uma crítica impiedosa ao estado da governação e sobretudo ao que dela resulta na perceção do quotidiano do português médio.
Ambas retomam o caso mediático do pretenso anúncio da concessão da RTP1 e encerramento da RTP2, sobretudo nas condições em que a ideia foi anunciada pelo consultor Borges em horário primetime.
Ambas exploram à sua maneira o rescaldo mediático e de opinião de um anúncio atabalhoado sobre um tema que não está estabilizado e sobre o qual nem sequer está aberto o debate público: o que é um serviço público de televisão nos nossos dias?
De facto, para além do tema em si que tenderá sempre a alimentar posições desencontradas, o que resulta muito clara desta situação é a profunda descoordenação governativa, neste caso a cargo de um ministro neste momento de pólvora seca, pelo menos desacreditado senão acossado. E se o primeiro-Ministro se apressou a declaração que tudo não passa de cenários a submeter à apreciação política, pode perguntar-se qual é o seu poder de comando sobre um Ministro que deveria ter a seu cargo a coordenação governativa e que tudo indica sufragou a decisão do consultor Borges abrir o livro para garantir à TVI um destaque glosado até à exaustão nos dias seguintes?
JPP é implacavelmente crítico da “solução de passar a televisão para ‘mãos amigas’ sem obrigar essas mãos a gastar muito dinheiro” e utiliza este mote para denunciar o esgotamento do modus operandi do Governo, fruto da incapacidade de governar nestes e para estes tempos, aliás numa sequência de pensamento que vem já de há alguns meses.
E há aqui de facto uma desconformidade curiosa. O PS ainda não logrou distanciar-se suficientemente da vertigem dos últimos tempos de governação Sócrates e da sua participação na manufatura do acordo com a Troika. Mas curiosamente o Governo tem praticamente esgotado o efeito impunidade resultante da rejeição do modelo de governação anterior. Os tempos não são convergentes. O tempo de distanciação do PS face à governação anterior é mais longo, porque está internalizado na cabeça de algumas das suas principais figuras. O tempo de impunidade é mais rápido e aí JPP tem razão ao assinalar a rapidez dos processos políticos de perda de estado de graça.
No caso do PS, a trapalhada da televisão pública que a descoordenação governativa provocou poderia constituir uma boa oportunidade de estabelecer a diferença, demonstrando que a defesa do serviço público não se confunde com a manutenção das condições intrínsecas de controlo da comunicação social. JPP e VPV dirão: como se isso fosse possível! Não sou tão taxativo, embora as evidências passadas para isso apontem. Mas seria bem mais útil para o futuro debate político se o PS em vez de apontar para Cavaco como a única esperança fosse mais explícito no que é que entende por defesa do serviço público.

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