Registo hoje com prazer o regresso do Freire de Sousa às
lides deste blogue e também os regressos ao trabalho das crónicas do Público de
Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Bons regressos, só esperando que este último
não nos brinde nos próximos dias com uma crónica a descrever os dissabores de
um elitista a disputar caminhos dos mais vulgares como aconteceu ano passado
com a sua história de uma ida ao Algarve. Ficamos com as crónicas e dispensamos
o enfado do seu contacto com a triste realidade do realismo quotidiano.
Mas as crónicas de regresso de JPP e de VPV vão no
sentido de uma crítica impiedosa ao estado da governação e sobretudo ao que
dela resulta na perceção do quotidiano do português médio.
Ambas retomam o caso mediático do pretenso anúncio da
concessão da RTP1 e encerramento da RTP2, sobretudo nas condições em que a
ideia foi anunciada pelo consultor Borges em horário primetime.
Ambas exploram à sua maneira o rescaldo mediático e de
opinião de um anúncio atabalhoado sobre um tema que não está estabilizado e
sobre o qual nem sequer está aberto o debate público: o que é um serviço público
de televisão nos nossos dias?
De facto, para além do tema em si que tenderá sempre a
alimentar posições desencontradas, o que resulta muito clara desta situação é a
profunda descoordenação governativa, neste caso a cargo de um ministro neste
momento de pólvora seca, pelo menos desacreditado senão acossado. E se o
primeiro-Ministro se apressou a declaração que tudo não passa de cenários a
submeter à apreciação política, pode perguntar-se qual é o seu poder de comando
sobre um Ministro que deveria ter a seu cargo a coordenação governativa e que
tudo indica sufragou a decisão do consultor Borges abrir o livro para garantir à
TVI um destaque glosado até à exaustão nos dias seguintes?
JPP é implacavelmente crítico da “solução de passar a televisão
para ‘mãos amigas’ sem obrigar essas mãos a gastar muito dinheiro” e utiliza este
mote para denunciar o esgotamento do modus operandi do Governo, fruto da incapacidade
de governar nestes e para estes tempos, aliás numa sequência de pensamento que
vem já de há alguns meses.
E há aqui de facto uma desconformidade curiosa. O PS
ainda não logrou distanciar-se suficientemente da vertigem dos últimos tempos
de governação Sócrates e da sua participação na manufatura do acordo com a
Troika. Mas curiosamente o Governo tem praticamente esgotado o efeito
impunidade resultante da rejeição do modelo de governação anterior. Os tempos não
são convergentes. O tempo de distanciação do PS face à governação anterior é
mais longo, porque está internalizado na cabeça de algumas das suas principais
figuras. O tempo de impunidade é mais rápido e aí JPP tem razão ao assinalar a
rapidez dos processos políticos de perda de estado de graça.
No caso do PS, a trapalhada da televisão pública que a
descoordenação governativa provocou poderia constituir uma boa oportunidade de estabelecer
a diferença, demonstrando que a defesa do serviço público não se confunde com a
manutenção das condições intrínsecas de controlo da comunicação social. JPP e
VPV dirão: como se isso fosse possível! Não sou tão taxativo, embora as evidências
passadas para isso apontem. Mas seria bem mais útil para o futuro debate político
se o PS em vez de apontar para Cavaco como a única esperança fosse mais explícito
no que é que entende por defesa do serviço público.
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