sábado, 29 de setembro de 2012

A BANCA E O DÉFICE

(Malagon)


Não é coisa que não fosse por cá conhecida. Mas pela sua dimensão, a situação espanhola concede-lhe uma outra expressão. Falo das possíveis relações entre intervenções de resgate financeiro à banca e o défice público, com as consequentes implicações que isso acarreta na situação atual.
O caso espanhol constitui uma excelente ilustração das interrogações que os diferentes esquemas de ajuda à banca tendem a suscitar. O discurso inicial do governo espanhol foi o de associar o resgate financeiro à banca em dificuldades como uma operação que não agravaria a situação do contribuinte espanhol. Daí o seu permanente e reiterado “esconde esconde” com as autoridades europeias evitando transformar essa operação num resgate sobre a economia espanhola, com as consequências que os programas centrados na Irlanda, Grécia e Portugal têm vindo a gerar.
Mas o problema é que essas ajudas e intervenções se processam num contexto global em degradação sucessiva e não numa situação que esteja contida. Em Espanha, a intervenção tem sido concretizada através do FROB (Fondo de Reestructuración Ordenada de la Banca), injetando dinheiro público nas entidades nacionalizadas. Sabe-se hoje que o FROB estima em 11.000 milhões de euros o montante injetado que corresponderá a valores irrecuperáveis, ou seja, a operações de risco elevado ou mesmo “tóxico” realizadas por tais entidades em pleno delírio da fuga para a frente em que o sistema financeiro se viu envolvido na segunda metade da década anterior.
Trocado por miúdos, isso significa algo de semelhante a 1% do POB espanhol que terá de ser assumido como défice público de 2011 ou de 2012, o Eurostat o dirá em articulação com o governo espanhol. Se a operação for reportada a 2011, esse ano ficará na história orçamental espanhola como um dos exemplos mais sinuosos de correção em alta sucessiva do défice público. Primeiro, com correção dos números associados ao governo PSOE, depois com as intervenções nas comunidades autónomas de Madrid e Valência, largamente comprometidas com o despautério da banca nessas regiões e agora com mais esta correção. Claro que nestas operações, que implicam um aumento de gasto público não continuado e só reportado ao ano de inscrição estatística, há aspetos de registo contabilístico mais complexos que transcendem o âmbito desta reflexão. Mas o que fica é a ideia de que há relações entre ajudas à banca e défice público. Para o cidadão comum, o tema é nebuloso e faz aumentar a desconfiança sobre todo o processo. Até porque o problema da banca faz parte do problema e o seu contributo para a criação de condições de recuperação e crescimento continua largamente interrogado.
O relatório da consultora americana Oliver Wyman ontem publicado confirma que são essencialmente as entidades financeiras já intervencionadas pelo FROB aquelas que apresentam as maiores necessidades de capitalização. Surpresa terá sido apenas a indicação do Banco Popular como estando carenciado de capitalização adicional, circunstância que tudo indica será assegurado internamente pela própria instituição.

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