(Malagon)
Não é coisa que não fosse por cá conhecida. Mas pela sua
dimensão, a situação espanhola concede-lhe uma outra expressão. Falo das
possíveis relações entre intervenções de resgate financeiro à banca e o défice
público, com as consequentes implicações que isso acarreta na situação atual.
O caso espanhol constitui uma excelente ilustração das
interrogações que os diferentes esquemas de ajuda à banca tendem a suscitar. O
discurso inicial do governo espanhol foi o de associar o resgate financeiro à
banca em dificuldades como uma operação que não agravaria a situação do
contribuinte espanhol. Daí o seu permanente e reiterado “esconde esconde” com
as autoridades europeias evitando transformar essa operação num resgate sobre a
economia espanhola, com as consequências que os programas centrados na Irlanda,
Grécia e Portugal têm vindo a gerar.
Mas o problema é que essas ajudas e intervenções se
processam num contexto global em degradação sucessiva e não numa situação que
esteja contida. Em Espanha, a intervenção tem sido concretizada através do FROB
(Fondo de Reestructuración Ordenada de la Banca), injetando dinheiro público
nas entidades nacionalizadas. Sabe-se hoje que o FROB estima em 11.000 milhões
de euros o montante injetado que corresponderá a valores irrecuperáveis, ou
seja, a operações de risco elevado ou mesmo “tóxico” realizadas por tais
entidades em pleno delírio da fuga para a frente em que o sistema financeiro se
viu envolvido na segunda metade da década anterior.
Trocado por miúdos, isso significa algo de semelhante a
1% do POB espanhol que terá de ser assumido como défice público de 2011 ou de
2012, o Eurostat o dirá em articulação com o governo espanhol. Se a operação
for reportada a 2011, esse ano ficará na história orçamental espanhola como um
dos exemplos mais sinuosos de correção em alta sucessiva do défice público.
Primeiro, com correção dos números associados ao governo PSOE, depois com as
intervenções nas comunidades autónomas de Madrid e Valência, largamente comprometidas
com o despautério da banca nessas regiões e agora com mais esta correção. Claro
que nestas operações, que implicam um aumento de gasto público não continuado e
só reportado ao ano de inscrição estatística, há aspetos de registo
contabilístico mais complexos que transcendem o âmbito desta reflexão. Mas o
que fica é a ideia de que há relações entre ajudas à banca e défice público.
Para o cidadão comum, o tema é nebuloso e faz aumentar a desconfiança sobre
todo o processo. Até porque o problema da banca faz parte do problema e o seu
contributo para a criação de condições de recuperação e crescimento continua
largamente interrogado.
O relatório da consultora americana Oliver Wyman ontem publicado confirma que são essencialmente as entidades financeiras já
intervencionadas pelo FROB aquelas que apresentam as maiores necessidades de
capitalização. Surpresa terá sido apenas a indicação do Banco Popular como
estando carenciado de capitalização adicional, circunstância que tudo indica
será assegurado internamente pela própria instituição.
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