Repito-me: continuo na minha de que o dossiê das vacinas não é o mais pertinentemente utilizável para se criticar a União Europeia e, em especial, a sua Comissão. A meu ver, não fora a iniciativa de UvdL, os diferentes países europeus estariam vergonhosamente a competir entre si pelo acesso às doses possíveis, com a agravante de que valeria tudo e de que os mais pobres de entre eles seriam seguramente os mais negativamente afetados por essa concorrência. Não obstante a minha recusa de subscrever a ideia de uma “derrota europeia” (nos termos da capa do “L’Express” desta semana), considero todavia que a questão em causa é reveladora de uma construção europeia doente, menos assente na procura de caminhos partilhados do que na força dominante de alguns (maxime dos alemães, que parecem agora decididos a negociar a vacina russa bilateralmente), na ausência de valores mínimos comuns de outros (vejam-se os hungaros, os polacos, os eslovacos e outros “filhos” do alargamento que nunca devia ter acontecido com as pressas que lhe foram permitidas) e no nacionalismo acéfalo de uma maioria sempre pronta a repercutir sobre o todo as suas opções unilateralmente tomadas (veja-se o recente caso dos austríacos na compra de vacinas). O exemplo do Conselho de Ministros da Saúde de ontem, incapaz de chegar a uma posição única sobre a utilização da vacina da AstraZeneca, aí esteve a comprová-lo uma vez mais.
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