(No dia 26 de abril de 2021, para memória futura, um dia depois de comemorar a liberdade, tomei a vacina que nos pode devolver alguma liberdade cautelosa. Quis a distribuição das vacinas que nos chegam que fosse dia no Centro de Vacinação do centro urbano de Vila Nova de Gaia que fosse a AstraZeneca a ser-me inoculada. Enriquecendo o dicionário pandémico considero-me AstraZenecado, aparentemente sem reação imediata e com a informação de que o maior espaçamento para a segunda dose se deve ao facto da primeira dose da AZ apresentar uma maior carga protetora. Já a pensar em ir a banhos, em 19 de julho tomarei a segunda dose, completando o processo sem ter necessidade de pacientar mais do que o razoável.)
Já o referi que gostaria de integrar o corpo dos que foram inoculados com o método do mensageiro (Pfizer-Biontech ou Moderna) que me parece ser o modelo de vacina que nos vai trazer uma faixa mais larga de novas conquistas médicas. Mas o fundamental era o acesso a uma vacina, sobretudo se pensarmos no privilégio ocidental de vacinar a este ritmo quando nos comparamos com os pobres do mundo menos desenvolvido. Passo assim a ser aliado dos britânicos que apostaram quase tudo nesta vacina da AZ e estou-me nas tintas para o facto da União Europeia pretender verter para esta vacina a expiação das suas culpas ou ingenuidades. Tenho encontro marcado para 19 de julho e é isso que me interessa.
Pude confirmar a excelente organização do Centro de Vacinação, com gente muito jovem a contrastar com o tom grisalho do escalão dos 70, tempos de espera muito aceitável (gostei do requinte das 13.13 como hora de marcação), área de recobro confortável, estacionamento gratuito nas imediações, um ou outro Covidiota a protestar contra alguma coisa, talvez esperançado em obter as boas graças de um repórter perdido no ritmo aceitável da vacinação. A memória é curta mas se pensarmos no tom catastrófico de alguns profetas da desgraça que antecipavam as nossas fraquezas logísticas e apesar da incerteza comunitária, o ritmo é bem aceitável mesmo que não sejamos de todo obcecados eficientes como os israelitas (também não temos nenhum Netanyahu a precisar urgentemente de se eleger para governar e decretar a sua própria imunidade não ao vírus mas a outras ameaças).
Se o Professor Henrique Barros não nos tivesse brindado noutras sessões do Infarmed com algumas interpretações estapafúrdias teríamos razões para ter esperança redobrada quando ele nos diz hoje que em setembro podemos ter zero casos de COVID-19, corrigido por ele próprio por número residual de casos sem consequências marcantes em termos de internamentos e pressão hospitalar, caso consigamos manter as coisas como temos conseguido nas últimas semanas. A densidade territorial e urbana difusa continua a pregar algumas partidas. O Tâmega e Sousa e a Área Metropolitana do Porto com ele contígua causam alguma preocupação pois foi aí que tudo praticamente começou e pelos vistos parece reincidir, elegendo essa tipologia de territórios como crucial para conseguir alcançar uma transição.
De qualquer modo, o negacionismo das vacinas parece não ter encontrado em Portugal o combustível que desejaria, apesar dos contributos voluntários e involuntários que por aí surgiram.
Bastaria isso para respirar melhor.
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