domingo, 25 de abril de 2021

47 ANOS JÁ TRANSCORRIDOS!



Hoje acordei incompreensivelmente nostálgico, talvez consciencializando o tanto que já passou, em termos individuais e coletivos, por debaixo da ponte daquele dia subitamente longínquo em que o essencial esteve para mim no tatear e na procura de saber e entender o que a limitada experiência da solidariedade académica e de uma assumida opção anticolonial ainda não tinham permitido, mas já incorporando uma vontade firme de ser parte e de olhar em frente.

 

Dediquei a manhã a assistir à habitual cerimónia parlamentar comemorativa do 25 de abril, a qual decorreu sem grandes motivos de registo até ter culminado com um discurso absolutamente brilhante do Presidente da República, cuja leitura recomendo vivamente. Mas em simultâneo, e à medida que alguns dos “velhos” cúmplices me iam fazendo chegar as suas mensagens escritas alusivas (entre o “sempre” e o “nunca mais” ou referências primordiais à “liberdade”) – escolhi três especiais para abrir este post –, a minha cabeça nunca conseguiu deixar de ir revendo e recordando as marcas entranhadas daqueles primeiros dias que se depararam a um jovem estudante universitário portuense (como era o meu caso).

 

As aulas que já não aconteceram, as tentativas de saciar fugidiamente a curiosidade nas ruas e nas entrelinhas dos comunicados que surgiam na rádio ou na televisão, a manutenção de um contacto essencial com as amigas e amigos do quotidiano, a nervosa audição caseira e noturna dos novos senhores da Junta de Salvação Nacional, a comovente novidade da libertação dos presos políticos e da perseguição aos agentes da PIDE ou das espantosas chegadas a Portugal de Mário Soares e Álvaro Cunhal, as primeiras manifestações cívicas em torno de um novo Reitor para a UP e de um novo Diretor para a Faculdade de Economia, a enormidade mobilizadora e festiva daquele Primeiro de Maio. Uma semana sem parança que valeu por anos de maturação e poderá ter sido a mais marcante da componente da minha vida que cruza o individual e o comunitário. Porque o resto, aquele vertiginoso ano e meio que agitou o País até ao 25 de novembro de 1975, esse correspondeu a outra coisa, tão incontável e inolvidável quanto profundamente sincera e inconsequente.

 

Deixo-vos com a conhecida, mas sempre bela e por demais propositada, mensagem poética de Sophia: “Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”.



Sem comentários:

Enviar um comentário