sábado, 10 de abril de 2021

CARLOS ALEXANDRE

A tarde de ontem ficará certamente na história da Justiça portuguesa (ou falta dela). A leitura da decisão instrutória da “Operação Marquês” pelo juiz Ivo Rosa não deixou ninguém indiferente nesse Portugal que ainda atenta na “coisa pública”. Estupefação e indignação foram as primeiras e mais visíveis reações, apesar do facto de o decisor ter deixado para o fim alguma compensação, entre acusação a Sócrates por “crimes menores” e, sobretudo, uma proclamação da existência de um crime de corrupção passiva, embora prescrito. Ainda não será seguramente o tempo para se fazerem apreciações definitivas sobre uma matéria desta complexidade e demora, sendo que entre recursos e julgamento ainda vão decorrer vários anos. Mas há algo que a minha ignorância na matéria não deixa de querer sublinhar desde já: o teor da argumentação de Ivo Rosa em relação à acusação é de uma violência inaudita (que importaria esclarecer, whatever), a questão das prescrições dos processos tem de ser abordada com objetividade e consequências (até porque ela se insere na questão maior de um possível uso inapropriado de recursos públicos), não poderá haver como não clarificar junto da opinião pública o que está e esteve em causa (sob pena de a presente deriva populista, ainda embrionária, vir a crescer de modo descontrolado) e convirá que alguém explique também porque foi dado a José Sócrates o tratamento que foi (a começar no momento da sua prisão no aeroporto de Lisboa com as televisões em direto). A minha intuição aponta para que a descontrolada vaidade de Carlos Alexandre, repentinamente saído de cena, poderá ter muito a ver com o fulcro deste deplorável caso.

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