Mais de um século depois, um presidente americano veio hoje finalmente validar a qualificação de genocídio aos massacres e deportação forçada de centenas de milhares de cidadãos arménios às mãos das forças otomanas, durante a Primeira Guerra Mundial. A pressão das autoridades turcas tinha até agora logrado manter o terrível acontecimento relativamente resguardado da pior acusação, muito por via de um jogo de charme e chantagem em que a força e a localização da potência regional turca sempre foram capazes de desempenhar um papel neutralizador de tal reconhecimento. As circunstâncias presentes, designadamente a alargada cooperação entre a Turquia e a Rússia em vários palcos de conflitualidade e guerra regionais, terão certamente facilitado a iniciativa de Biden, mas nem por isso ela poderá ser desvalorizada em nome de uma convivência global em que os valores humanitários ainda minimamente contem. A quem, como tive a sorte de poder ocorrer comigo, circulou pela Arménia e por lá abordou pessoas avulsas sobre a matéria, assim como visitou aqueles impressionantes memorial e museu anexo construídos próximo de Ereván com os montes Ararat no horizonte, não terão restado quaisquer pontas de dúvida sobre a verdade inconveniente que por ali tristemente pairava – daí a minha vontade de expressar um sentido contentamento pela tardia justiça mínima agora reposta.
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