quarta-feira, 14 de abril de 2021

DICIONÁRIO

 


(Uma notícia no El País, link aqui, centrada na décima atualização do Dicionário Histórico da Língua Espanhola sugere-me algumas analogias com a evolução do nosso próprio universo linguístico em tempos de pandemia. Há palavras das quais dificilmente nos livraremos, e que voluntariamente não esqueceremos, ditadas por este estranho e novo habitat em que estamos mergulhados.

Os registos proclamam que os senhores desta casa estão inseridos na chamada e também atribulada fase 2. Afinal passaram apenas 14 dias de abril, espera-se um contacto do centro de vacinação. Chegam-nos notícias contraditórias de gente amiga que foi vacinada na fase 1 quando pertencia à fase 2, algumas das quais decorrentes da intervenção humana do médico de família ou assistente regular, sabe-se lá com que critérios, por isso sempre achei que quanto menos intervenção humana não oficial melhor, pois sabemos o que a casa, não a minha mas a portuguesa, gasta. Entretanto, o que nasce torto a nível europeu dificilmente se endireitará, todo o bicho careta presta declarações e começa-se a desenhar a hipótese da Comissão e a União Europeia desligarem de vez da AstraZeneca, que continua a ser entendida e reconhecida como a vacina inglesa. A situação complicou-se com a decisão dos amigos Americanos quanto à vacina da Jansen (Johnson&Johnson), aquela da única dose para preencher o seu efeito, e continuo à espera de uma explicação plausível para os casos trombóticos dos tais malditos coágulos. Todo o planeamento é contingencial e a suspensão da vacina da Janssen obrigará obviamente a novos planos. A Europa no seu melhor dispara para todo o lado com medidas unilaterais (até tu Ó Calma Dinamarca!) e os amantes do cabalístico encontrarão matéria suficiente para glosar o tema “a vacinar também se faz a guerra, comercial claro está”. De todo este ruído retiro uma importante conclusão. A vacina metodológica e cientificamente mais inovadora e por isso potencialmente mais arriscada, a da Pfizer e também da Moderna, com a informação disponível hoje, parecem portar-se bem, o que evidencia a proeza científica que a caracteriza. Cientificamente otimista como sou, acho que a ideia central a partir da qual as vacinas da Pfizer/Biontech e da Moderna foram concebidas não vai ficar por aqui em matéria de nos surpreender. Outras aplicações irão surgir.

Pelo andar da carruagem o melhor será renovar o stock de máscaras, para as adaptar ao vestuário de verão, é preciso manter a autoestima. O festim das papilas gustativas que viria associado à revisita da Sicília lá terá de ficar para outro ano que não em 2021.

E como os linguistas espanhóis o compreenderam, o nosso léxico verbal e escrito vai impregnar-se de tudo o que vem associado à pandemia, começando com a palavra coronavírus que veio para ficar. Mas a notícia do El País sobre a décima atualização do Dicionário Histórico da Língua Espanhola traz-nos outras preciosidades, como coronaplauso, covidiota (esta é a de que eu gosto mais), bebécorona (separado? bebé corona?) e outras mais que a nossa imaginação nos poderá ajudar a construir. E isto para não falar de outras palavras que andavam pelos domínios da experimentação ou da utopia e que, de repente, se juntaram às nossas vivências diárias, como o teletrabalho.

Assim sendo e cultivando a paciência como se trata uma flor ou planta que queremos preservar, apetece dizer …

Coronaplausos para quem os merecer e combate sistemático e feroz aos covidiotas deste país!

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