terça-feira, 20 de abril de 2021

UM REGISTO DE MARIANA

Na última Sexta-Feira, o “Expresso da Meia-Noite” da SIC-Notícias, foi obviamente consagrado à discussão do caso Sócrates, tendo contado com duas personagens especialmente interventoras em matérias do tipo (Ana Gomes e Mariana Mortágua). Esta última iniciou a sua prestação com uma “história” que, não sendo desconhecida na sua essência, merecerá certamente ser registada para uma qualquer, embora improvável, memória futura que o justifique. Assim o faço na nua e crua transcrição que segue.

 

“No meio da década de 90, houve várias empresas ligadas ao BES, ao BCP, ao Finibanco, ao BPN que foram constituídas para prestar serviços de fraude fiscal, de fraude fiscal é isto – faturas falsas, sobrefaturação, ligações à Zona Franca da Madeira e a offshores. Prestaram estes serviços a centenas de empresas em Portugal: Mota-Engil, Grupo Amorim, Barbot, Porto Editora, Pais do Amaral, Ibermoldes, Visabeira, centenas. Isto é a “Operação Furacão”. A maior parte destas pessoas não foram condenadas porque pagaram para não serem condenadas. Quando o sistema da “Operação Furacão” foi desmantelado em Portugal, criou-se uma alternativa: a alternativa foram gestores de contas da UBS, que é um banco na Suíça, que, através de uma figura conhecida por Zé das Medalhas (que tinha uma casa de numismática na Baixa de Lisboa), criou um esquema para branquear capitais, lavar dinheiro e fugir ao Fisco. As pessoas entregavam o dinheiro em notas ou depositavam o dinheiro na Suíça e depois o dinheiro entrava e saía e ninguém dava contas a ninguém, não de pagava impostos, branqueou-se. Centenas de empresários, advogados, artistas, políticos utilizaram esta rede de branqueamento de capitais. Este é o processo “Monte Branco”. O processo “Monte Branco” começou a ser investigado em 2009 e não tem uma acusação, hoje em dia. [AG: O Ministério Público tem esses dados todos]. Os clientes do caso “Monte Branco”, os clientes desta rede de lavagem de dinheiro são Ricardo Salgado, e depois as suas ramificações no caso BES e a forma como foi comprando favores para vários negócios que não é preciso especificar, Duarte Lima (no caso BPN e no caso “Homeland” em que houve um crédito falso para enriquecimento do próprio), Hélder Bataglia (que está ligado à ESCOM, ao negócio dos submarinos com um governo do PSD, ao negócio Vale do Lobo com um governo PS e a Caixa Geral de Depósitos e Armando Vara) e Álvaro Sobrinho e uma figura obscura juntamente com estes chamada Ana Bruno (uma advogada de offshores que aparece surpreendentemente em todos estes casos). Isto para dizer o quê? Aquilo que durante muito tempo se chamou uma elite de negócio é uma máfia, é uma máfia de negócios que foi aproveitando, com maior ou menor grau de gravidade, as grandes oportunidades dos negócios rentistas em Portugal e do imobiliário. E foi esta rede que o Bloco sempre tentou denunciar e não normalizar. O Hélder Bataglia foi condecorado por Cavaco Silva! Esta rede dirigiu a economia portuguesa.”

 

To whom it may concern...

Sem comentários:

Enviar um comentário