sexta-feira, 23 de abril de 2021

ASSINO POR BAIXO

 


(Não é frequente os dois escribas deste blogue partilharem desabafos em posts sucessivos. Faz parte do nosso código prazenteiro de escrever pelo gozo que dá e pela necessidade de o fazer. Mas neste caso os astros alinharam-se e o desabafo é sucessivo e justifica-se que assine por baixo, pois a matéria começa a feder e a moer-nos o juízo para lá do suportável.)

Tem razão o meu colega de blogue quando assinala que a questão está já muito para além do estilo Correio da Manhã com um repórter improvisado, ou a caminho para isso, em qualquer esquina ou, neste caso, em cada centro de vacinação. Durante muito tempo tive dificuldade em compreender o número tão elevado de leitores do Correio da Manhã (jornal), mas com o tempo fui percebendo que os economistas têm um nome para isso, procura revelada. E, por isso, a mancha tem-se estendido para outros canais de televisão como se de um vírus se tratasse.

A pandemia e sobretudo o sangue fresco que os piores momentos da sua difícil gestão proporcionaram preparou o ambiente e até gente informada, culta e que de todo rejeita misturar-se com a turba, como a Clara Ferreira Alves, anunciou o pior em termos de logística de vacinação. Os primeiros passos em falso com as típicas manigâncias do português chico esperto (que abundam como sabemos) deram o mote, íamos ter uma desgraça. A União Europeia inicialmente não ajudou (já a isso me referi em posts anteriores) e o caldo estava perfeito para o catastrofismo nos visitar regularmente seja no sociologicamente período da manhã das televisões, seja nos telejornais.

Mas esta gente lembra-me os economistas que preferem construir a sua própria realidade para que tudo dê certo nos seus cálculos, pressupostos e conclusões predeterminadas. A realidade é mesmo muito dura. Assim, o governo arrepiou caminho, aprendeu com os sobressaltos e laxismo do Natal, num ápice passámos dos piores aos melhores, aguentámos a Páscoa, melhoramos substancialmente a comunicação com o já conhecido quadrado do Costa, começámos a vacinar e a própria União Europeia corrigiu o tiro, podendo haver não uma escassez mas um entupimento de oferta de vacinas. E, contra o que as CFA deste país imaginaram, a logística afinal funciona e a farda do Vice-Almirante colocou na ordem muitos dos aprendizes de jornalistas, uma farda ainda tem muito peso. Para o que esta gente tinha engatilhado isto tudo é uma grande chatice e obriga obviamente a pescar à linha. Sabemos que há sempre um português feito peixe para ser pescado com um microfone à espreita e uma câmara para impressionar, seja por causa de uma unha encravada ou porque a enfermeira não picou com a doçura necessária. Uma quarta vaga pode obviamente acontecer porque a pandemia é “pan” e o mundo continua a não estar para velhos, como a Índia e o Brasil nos ilustram todos os dias. Dava gozo que ela não acontecesse só para morder a imaginação desta gente.

Pacientar foi um verbo que emergiu para gerir as minhas próprias expectativas. Por SMS eficiente fiquei a saber que segunda e terça feira próximas cá por casa ficaremos vacinados, não sabemos se com uma toma apenas da Johnson&Johnson, se com duas das restantes. Já agora gostaria de contribuir para que o método do mensageiro (Pfizer-Biontech e Moderna) se afirmasse. Mas venha a que for. Mas pacientar não vai desaparecer do meu léxico e provavelmente a máscara também. Haverá sempre uma nova variedade à espera e uma longa adaptação nos aguarda. E as férias que sejam pelo menos iguais às do ano passado.

Desabafei.

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