(O blogue Development Impact do Banco Mundial nasceu poucos meses antes do nosso INTERESSE, mais propriamente em abril de 2011. Apesar da sua integração numa instituição como o Banco Mundial, e muitas vezes esta instituição tem estado sob o fogo de quem estuda o desenvolvimento numa perspetiva integrada, o tema da avaliação de impacto e a investigação a que tem dado origem encontram neste espaço um refúgio de eleição. Seria interessante avaliar, à luz dos próprios ensinamentos do blogue, que impacto tem tido essa mesma investigação sobre a atividade do próprio Banco e sobretudo sobre o modo como os projetos apoiados são analisados/avaliados. Por hoje, o tema é menos ambicioso. Trata-se apenas de dissertar um pouco sobre a imagem espantosa que o seu novo logo apresenta.
Talvez o desígnio principal da investigação sobre o desenvolvimento, seja ela no âmbito da economia do deo blogue quesenvolvimento ou de perspetivas que se atravessem por uma lógica de maior interdisciplinaridade, avançando no que um dos patronos deste blogue, Albert O. Hirschman, designava inovadora e corajosamente por TRESPASSING, seja o de apreender os resultados esperados ou potenciais e as escolhas associadas dos processos de desenvolvimento e das políticas para os induzir.
Ao fim de 10 anos de atividade (link aqui), o blogue decidiu mudar a sua imagem ou logo lançando para isso um concurso de ideias dirigido a artistas e fotógrafos. A imagem que abre o post de hoje e que acompanha o Development Impact é de autoria de uma fotógrafa boliviana, Mariajose Silva-Vargas, nascida em La Paz e de ascendência italiana que é estudante de doutoramento em economia do desenvolvimento.
Tenho de confessar que foi a imagem e não a efeméride dos 10 anos do blogue que hoje me atraiu. Compreende-se a opção assumida de a transformar no logo do Development Impact. Em primeiro lugar, a figura da jovem que atravessa a figura é notável de postura e de impacto, interpreto-a como veiculando uma ideia hoje fundamental nas políticas de desenvolvimento. A mulher e particularmente as jovens oferecem ao desenvolvimento um campo de oportunidades que estamos longe ainda de compreender plenamente. A mulher jovem é simultaneamente um público-alvo incontornável das políticas, mas sendo-o constituem um agente de transformação profunda. Ou seja, o retorno da promoção da mulher nos países em desenvolvimento é elevadíssimo, já que o seu fortalecimento equivale a multiplicar agentes dinâmicos na sociedade.
Mas a alegoria das portas da fachada fotografada é talvez a mais profunda e mais conexa com os desafios do desenvolvimento. As três portas são similares, mas se aprofundarmos o nosso olhar (a investigação) observámos que existem diferenças. O pormenor das trancas é um monumento de sensibilidade. Os efeitos das políticas podem transportar consigo diferenças que exigem aprofundamento, sobretudo do ponto de vista dos efeitos sobre as pessoas e a sociedade. Mas também podemos interpretar que por detrás daquelas portas estão realidades que por vezes as políticas de desenvolvimento não conseguem destrinçar, mesmo que apoiadas por avaliações ex-ante ou experiências de controlo aleatório e grupos de controlo (domínio em que a nossa fotógrafa investigadora está a fazer o seu doutoramento).
E vejam como muda a perspetiva com a posição da modelo e instrutora de Yoga Cissy Nansera que trabalhou com Mariajose estes ambientes. Ela está de costas voltada para as portas e através dessa mudança de posição perde a centralidade da outra imagem e dilui-se na interrogação sobre o que as três portas significam.
O TRESPASSING permanente de Hirschman teria gostado desta imagem e do que ela representa para ilustrar os mistérios das políticas de desenvolvimento.
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