sexta-feira, 9 de abril de 2021

O ABALO

 


(Apenas uma crónica singela para registar o abalo em vários sentidos que a decisão instrutória do Juiz Ivo Rosa vai a partir de hoje provocar. A sensação é clara. Vai continuar o conflito intra-justiça e a verdade vai pairar entre os dois limites que hoje foram presentes, o da instrução e da acusação. Talvez do ponto de vista judicial nunca essa verdade venha a ser efetivamente identificada. A partir de hoje, as ondas mediáticas, políticas e sociais vão suceder-se, os judicialistas, políticos e sobretudo jornalistas, vão ocupar a cena e de novo o bombardeamento vai acontecer. Ninguém se preocupará com os danos. E vamos ter de aturar de novo a insuportável arrogância de Sócrates, embalado pelo resultado de hoje e cada vez mais atravessado pela construção da sua própria realidade.

Esta é das crónicas que fica praticamente pela sua introdução. Ontem, no Eixo do Mal houve finura e sagacidade bastantes para compreender que nesta última semana houve um conjunto de entrevistas de personalidades do mundo da justiça, com destaque para o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, 15 dias antes de se reformar e de Joana Marques Vidal, ex-Procuradora Geral da República, que talvez anunciassem a decisão de hoje, segundo um modelo típico de sacudir a água do capote.

Cada vez mais se me enraíza a ideia de que a principal ameaça à democracia portuguesa está nos problemas da justiça e sobretudo na incapacidade endógena de os resolver. Estou mesmo convencido que este caso vai agravar esse diagnóstico. E por isso não posso deixar de estar cada vez mais preocupado com o abalo que se antecipava para hoje, bastante mais impactante do que se esperaria. E, pior do que isso, as réplicas vão persistir por tempos infindos.

3 comentários:

  1. Para mim o erro básico está na construção de um mega processo que mistura tudo e todos e acaba por conduzir ao descrédito

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  2. A ilusão dos mega processos tem uma razão: a pretensão da justiça de levar a tribunal todo um regime e não de procurar acusar e condenar crimes bem concretos. Reconstituindo todo o processo compreende-se que essa era a estratégia. Com todas as sequelas associadas agora a emergirem: a arrogância narcisista de um corrupto prescrito e a onda populista selvagem que grassa por aí e perfeitamente ilustrada pela petição pública para afastar da justiça o Juiz Ivo Rosa. Dificilmente poderia ser pior.
    Obrigado pelo comentário Maria Albina.
    António Manuel Figueiredo

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  3. A ilusão dos mega processos tem uma razão: a pretensão da justiça de levar a tribunal todo um regime e não de procurar acusar e condenar crimes bem concretos. Reconstituindo todo o processo compreende-se que essa era a estratégia. Com todas as sequelas associadas agora a emergirem: a arrogância narcisista de um corrupto prescrito e a onda populista selvagem que grassa por aí e perfeitamente ilustrada pela petição pública para afastar da justiça o Juiz Ivo Rosa. Dificilmente poderia ser pior.
    Obrigado pelo comentário Maria Albina.
    António Manuel Figueiredo

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