domingo, 25 de abril de 2021

ONDE ESTAVAS TU NO 25 DE ABRIL?

 


Esta fotografia devo-a à página do Facebook do meu Amigo e colega Josué Caldeira. Desconheço a sua origem e autoria mas não resisto a reproduzir o que o próprio Josué Caldeira colocou no seu post: "O dia em que os putos deram as ordens de comando aos rapazes dos tanques. Até foi fácil. Mas ... também tiveram o apoio do mundo inteiro". Abraço Josué.

(Dentro de algum tempo haverá pouca gente em condições de responder à questão que o Baptista Bastos colocava. A memória da vivência perder-se-á com o desaparecimento dos principais atores intervenientes e então sim ver-se-á como resistirá o 25 de abril na simples existência da memória. Por agora, enquanto a memória da vivência é mantida pelos próprios, a melhor maneira de comemorar a efeméride é pensar o nosso futuro, contribuindo para o construir na medida das possibilidades de cada um.)

Em primeiro lugar a resposta à questão do BB.

No 24-25 de abril de 1974 estava no quartel da administração militar do Lumiar em Lisboa, onde completava a instrução militar normal com o estatuto de cadete. Uns dias antes tinha-se pressentido a atmosfera do golpe falhado das Caldas. Nessa semana de abril, sem informação espacial e não fazendo parte do núcleo de cadetes mais próximo com informação sobre o que estava em movimento, havia alguma coisa no ar, algo de indefinido, que se clarificaria com o bater na porta do nosso quarto anunciando que estava em curso um golpe militar e que toda a informação seria prestada nessa madrugada. E assim começou para mim e para o meu grupo mais próximo o 25 de abril.

O discurso corajoso de Marcelo (link aqui) dominou a sessão na Assembleia da República e diria eu todas as comemorações deste dia, lembrando, entre outras coisas, a indissociabilidade entre o Movimento das Forças Armadas e a vivência da guerra colonial. A ação dos militares de Abril tem de ser equacionada num contexto em que não apenas ressalta a sua própria perceção do anacronismo e inviabilidade do regime e da guerra colonial, mas que também não pode ser dissociada da luta política contra esse regime, armada, clandestina, mas também no plano das corajosas mas fracassadas tentativas de modernização do regime por dentro e a partir de dentro. Ainda hoje, no Diário de Notícias, tomei conhecimento de um facto que desconhecia. Miller Guerra, um dos deputados da chamada “ala liberal” da então Assembleia Nacional e a personalidade que nesse grupo sempre mais me tocou, foi um dos nomes indicados pelos MFA à Junta de Salvação Nacional para primeiro-Ministro do novo governo em democracia, mas recusou porque exigiu como condição a imediata independência das colónias.

Desenvolver, democratizar e descolonizar era o lema dos DDD que definia o MFA. Rui Tavares (link aqui) mostra na sua crónica no Público que é clara nesse lema a influência do texto que o saudoso Medeiros Ferreira apresentou ao Congresso da Oposição Democrática em 1973 e do qual caiu o S de socializar. Ando perto do pensamento de RT quando defendo que aquele lema desperta hoje a reinvenção do que significa para nós, hoje, descolonizar, não tanto no plano das nossas relações com as ex-colónias, as quais prosseguirão a sua rota de busca de uma identidade e de um caminho para o qual provavelmente contarão pouco connosco, mas mais no plano de descolonizar cá dentro e da nossa relação com o mundo e com a União Europeia.

Nota posterior (26.04.2021)

Só agora é que reparei que, na fotografia selecionada pelo Josué Caldeira, junto ao cartaz que tem a referência a Lisboa, surge um jovem que parece o meu alter ego numa das ruas de Lisboa, já que é bastante parecido comigo muito mais jovem. Mas não é. Nesse dia, estava retido no quartel do Lumiar, em funções de cadete aderente à revolução.

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