domingo, 18 de abril de 2021

120.000

 


(Tempo para reencontro com netos e para que os netos se reencontrem, Lisboa e Porto separados pelo confinamento, logo reduzido espaço de concentração para a escrita. Num fim de semana em que tudo indica terá sido atingido o número mais elevado de vacinações, com professores e funcionários de escola à cabeça. Mas também um fim de semana em que a vontade de vir à rua se terá muito provavelmente em alguns casos sobreposto (não imagino em que dimensão) às regras mínimas de proteção.

São decisões difíceis de tomar. Testes rápidos para um mínimo de cautela e de validação da segurança de cada bolha e depois a difícil escolha dos espaços ao ar livre para que os primos se reencontrem, recuperem os saudáveis hábitos da brincadeira, retomem as cumplicidades destas idades que ficarão para sempre. No sábado, a escolha recaiu no Parque de S. Roque na zona oriental da cidade, uma agradável surpresa, já que há longo tempo que não o frequentava. Gente, mas uma ocupação muito distendida no espaço, sensação de segurança devido à baixa densidade de ocupação, uma frequência multicultural em busca do afago do sol, horas bem passadas num equipamento relevante da zona oriental da Cidade, que todos esperamos venha a dar ao Porto a dinâmica de coesão territorial e social de que necessita.

Se a solução de sábado foi acolhedora a de domingo revelou-se inviável. O litoral de Gaia, da Afurada para sul era um mar de gente, retirada estratégica óbvia e o novo parque urbano da Lavandeira alinhou pelo mesmo panorama. A procura do afago do sol misturada com a mensagem de uma nova fase de desconfinamento a partir de amanhã inundou perigosamente o espaço público de lazer. Em nenhum dos lugares pressenti a presença de autoridades fiscalizadoras, o uso de máscara era o tom dominante mas não exclusivo. Temo o pior e mais um tempo de espera para avaliar consequências se abre.

A estratégia de desconfinamento com critérios e métricas objetivos estabiliza expectativas e cria confiança, mas à medida em que o desconfinamento se aproxima dos seus limiares de maior liberdade a sua repercussão na flexibilização das condições de mobilidade torna-se praticamente incontrolável.

A abertura do secundário e do ensino superior vai esta próxima semana representar o grande desafio da gestão do desconfinamento, dadas as características muito particulares de comportamento da população mais jovem. O testemunho de Daniel Sampaio vai ser certamente pouco lido e o Expresso chega a relativamente pouca população. Por mais duro que isso possa parecer o seu testemunho sobre o internamento dos intensivos faz pensar qualquer um.

Neste contexto, a notícia de que no sábado terão sido vacinadas 120.000 pessoas e li o número de 170.000 para o fim de semana é o melhor registo possível, sobretudo quando não foi ainda assumida a ideia de vacinação em massa com a logística concebida para tal. Mas é uma boa notícia e mostra que o sistema está a funcionar. Gouveia e Melo parece ter o processo controlado.

Foi bom o reencontro. Mais do que o afago do sol, o afago dos quatro mosqueteiros dá a força necessária para o que tenho designado de pacientar e esperar por melhores dias. Mesmo que desta vez não dê para ver o Sokolov no Porto (Casa da Música) ou em Lisboa (Gulbenkian).

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