(Na Catalunha tudo aparece acontecer, do mais bizarro ao mais sinistro. A história dos bonecos suspensos de algumas pontes de alguns sítios icónicos do independentismo catalão com os nomes dos três partidos nacionalistas, Esquerra, Junts e CUP, é sinistra, pode ter várias interpretações, mas para mim é sobretudo um mau agoiro do que pode vir a passar-se por aquelas terras, às quais associo algumas das minhas melhores férias em família.)
Já percebemos que as peripécias dos sucessivos falhanços de investidura de um governo regional para a Generalitat, devidos sobretudo à dificuldade de entendimentos entre as três formações nacionalistas e independentistas, ou se quiserem devido à contradição fundamental de um destes partidos, o Junts de Junts tem muito pouco, não abonam nada a favor da seriedade dos propósitos independentistas. Para o meu modesto conhecimento das coisas da Catalunha política isso não me traz qualquer novidade. A única formação entre as três que tem um ideário político para além da independência é a Esquerra Republicana. A CUP é um hino ao radicalismo inorgânico, logo sensível ao capricho das bases, não acrescenta nada à concertação, antes desconcerta permanentemente e lá estará para as manifestações mais violentas do independentismo, embora nunca tendo ousado passar pela luta armada. Quanto ao Junts per Catalunya é uma amálgama informe, não se lhe conhecendo qualquer projeto concreto de país. E, pelo que se vai lendo, Puigdemont pretenderá governar de fora do que ele pomposamente, com comparações ridículas com os grandes protagonistas do pensamento catalão, designa de exílio. Por mais estranho que vos possa parecer, neste contexto a cola do independentismo e do afrontamento do Estado espanhol não chega. A Esquerra acaba de estabelecer uma espécie de ultimato ao Junts com a data de 1 de maio a servir de baliza temporal. Que se entendem ou se danem.
Nos últimos dias tem-se registado um acontecimento (com expressão em vários sítios icónicos do independentismo catalão como VIC por exemplo) de todo bizarro. Têm aparecido em algumas pontes dessas localidades profundamente catalanistas bonecos dependurados com os nomes dos três partidos independentistas, com um dístico superior a dizer isto: “52% queremos la independencia. Primer aviso". Bizarro, misterioso e passível de várias interpretações.
A interpretação mais óbvia será que o independentismo mais radical ameaça o independentismo com assento parlamentar, sugerindo talvez que o radicalismo da CUP já era e que para alguns já se terá vendido. Mas atendendo ao desconcerto da negociação para a formação de governo, outras interpretações são possíveis, inclusive pressões vindas de dentro da coligação desconcertada. Os desorientados Mossos d’Esquadra, polícia regional, lá têm investigado a origem de tal bizarra ameaça, tendo por agora retirado os pobres bonecos, invocando questões de segurança (link aqui e aqui).
Noutras alturas, bonecos similares representavam os partidos do sistema, considerados espanholistas e adversários da independência. Não deixa de ser curioso e também sintomático que sejam os partidos independentistas a ser agora pendurados.
Não acredito que um acordo de última hora não surja. De qualquer modo, mesmo que se forme governo na Generalitat, os bonecos suspensos são mau agoiro.
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