Os tempos vão maus
para as bandas do Governo no Quadratura do Círculo. A sessão de ontem centrada
em três temas de forte atualidade e exposição, OPA sobre a CIMPOR, desemprego a
14,9% e implosão potencial do euro e do projeto europeu, marcou o seguimento de
uma tendência que já aqui havia assinalado ter tido um “turning point”.
No caso da questão
CGD – OPA da CIMPOR, a posição mais relevante é a de António Lobo Xavier (ALX).
Trata-se de alguém que conhece como ninguém os meandros jurídicos de todas
estas operações e que diz preto no branco que tudo é pelo menos estranho,
obscuro, atípico e por conseguinte incompatível com o comportamento “accountable” e transparente de um banco
público. ALX chega mesmo a sugerir que tudo indica haver orientação
governamental para justificar a caricata posição da CGD de reagir à OPA 20
minutos depois de ela ser tornada pública e lamenta ter de dar razão a Pacheco
Pereira quanto à insólita circunstância do consultor António Borges aparecer no
Parlamento a representar o Governo como uma espécie de ministro sombra. Aliás,
esta posição de ministro sombra vai muito bem a quem, se a memória não me
atraiçoa, não tem colocado nunca a sua “competência” em favor do serviço público, nas suas itinerantes
e irregulares aparições na vida política. E de facto, um Parlamento que aceita
a presença de um consultor a responder politicamente por um governo é um
parlamento … para lamentar.
No caso do
desempego, JPP marcou o debate com a sua tese já reiterada em sessões
anteriores de que esta geração de políticos não compreende o desemprego e a sua
contribuição nefasta para uma anemia e inação social, bloqueando jovens (que emigram ou se
confrontam com oportunidades cerceadas) e os desempregados de longa duração e,
acrescento eu, podendo inverter a espantosa revolução social que a presença generalizada da mulher no mercado de trabalho representa. Na verdade, os custos
sociais do desemprego vão muito para além das prestações sociais envolvidas,
mesmo que submetidas a cortes orçamentais. São custos dinâmicos de penalização
do potencial de recuperação de toda uma sociedade que transcendem em muito o
conceito que nós economistas costumamos designar de gap ou hiato de produto potencial.
Aliás, na sequência do debate, é deliciosa a maneira como ALX se refere ao
caso, dizendo que o Primeiro-Ministro poderia ter veiculado a sua tese de que o
desemprego é uma oportunidade apenas no “ambiente restrito de uma Escola de Negócios
qualquer”, mas nunca para o país. Em meu entender, as gerações que fizeram vida
nas juventudes partidárias e nas redes associadas nunca compreenderão o
conceito de oportunidade. Só alguns, nas transições provocadas por alternância
democrática ficarão na antecâmara de o compreender, mas aí a corte e as “cortesinhas”
concelhias são muito protetoras e depressam os acolhem no seu regaço.
Finalmente, na
questão europeia, para além de uma curta e saudável lição de história grega
recente por JPP, António Costa marcou o debate, mas o tom foi de grande concórdia
na denúncia da volubilidade, ligeireza, irresponsabilidade dos principais políticos
europeus. E o nosso contributo para essa marca politica europeia recente
chama-se Durão Barroso. De facto, uma saída grega, por mais heterodoxa que seja
a situação interna do país, não significa apenas a saída do elo mais fraco. Significa
antes a transformação de toda a zona euro em elo mais fraco. Martin Wolf chama-lhe no Financial Times um “precedente permanente”, associando-lhe a
quebra irreversível de confiança em toda a eurozona.
Ah! E ficámos também a saber que, em estilo muito british, o único personagem do Governo que constitui um “character” é Vítor Gaspar. Deixemos a
imaginação à solta para classificar os restantes membros.
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