sexta-feira, 18 de maio de 2012

QUADRATURA 3 – GOVERNO 0


Os tempos vão maus para as bandas do Governo no Quadratura do Círculo. A sessão de ontem centrada em três temas de forte atualidade e exposição, OPA sobre a CIMPOR, desemprego a 14,9% e implosão potencial do euro e do projeto europeu, marcou o seguimento de uma tendência que já aqui havia assinalado ter tido um “turning point”.
No caso da questão CGD – OPA da CIMPOR, a posição mais relevante é a de António Lobo Xavier (ALX). Trata-se de alguém que conhece como ninguém os meandros jurídicos de todas estas operações e que diz preto no branco que tudo é pelo menos estranho, obscuro, atípico e por conseguinte incompatível com o comportamento “accountable” e transparente de um banco público. ALX chega mesmo a sugerir que tudo indica haver orientação governamental para justificar a caricata posição da CGD de reagir à OPA 20 minutos depois de ela ser tornada pública e lamenta ter de dar razão a Pacheco Pereira quanto à insólita circunstância do consultor António Borges aparecer no Parlamento a representar o Governo como uma espécie de ministro sombra. Aliás, esta posição de ministro sombra vai muito bem a quem, se a memória não me atraiçoa, não tem colocado nunca a sua “competência” em favor do serviço público, nas suas itinerantes e irregulares aparições na vida política. E de facto, um Parlamento que aceita a presença de um consultor a responder politicamente por um governo é um parlamento … para lamentar.
No caso do desempego, JPP marcou o debate com a sua tese já reiterada em sessões anteriores de que esta geração de políticos não compreende o desemprego e a sua contribuição nefasta para uma anemia e inação social, bloqueando jovens (que emigram ou se confrontam com oportunidades cerceadas) e os desempregados de longa duração e, acrescento eu, podendo inverter a espantosa revolução social que a presença generalizada da mulher no mercado de trabalho representa. Na verdade, os custos sociais do desemprego vão muito para além das prestações sociais envolvidas, mesmo que submetidas a cortes orçamentais. São custos dinâmicos de penalização do potencial de recuperação de toda uma sociedade que transcendem em muito o conceito que nós economistas costumamos designar de gap ou hiato de produto potencial. Aliás, na sequência do debate, é deliciosa a maneira como ALX se refere ao caso, dizendo que o Primeiro-Ministro poderia ter veiculado a sua tese de que o desemprego é uma oportunidade apenas no “ambiente restrito de uma Escola de Negócios qualquer”, mas nunca para o país. Em meu entender, as gerações que fizeram vida nas juventudes partidárias e nas redes associadas nunca compreenderão o conceito de oportunidade. Só alguns, nas transições provocadas por alternância democrática ficarão na antecâmara de o compreender, mas aí a corte e as “cortesinhas” concelhias são muito protetoras e depressam os acolhem no seu regaço.
Finalmente, na questão europeia, para além de uma curta e saudável lição de história grega recente por JPP, António Costa marcou o debate, mas o tom foi de grande concórdia na denúncia da volubilidade, ligeireza, irresponsabilidade dos principais políticos europeus. E o nosso contributo para essa marca politica europeia recente chama-se Durão Barroso. De facto, uma saída grega, por mais heterodoxa que seja a situação interna do país, não significa apenas a saída do elo mais fraco. Significa antes a transformação de toda a zona euro em elo mais fraco. Martin Wolf chama-lhe no Financial Times um “precedente permanente”, associando-lhe a quebra irreversível de confiança em toda a eurozona.
Ah! E ficámos também a saber que, em estilo muito british, o único personagem do Governo que constitui um “character” é Vítor Gaspar. Deixemos a imaginação à solta para classificar os restantes membros.

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