Enquanto a queda
do euro para valores de 2003 vai dando algum fôlego aos exportadores europeus e
também aos portugueses que conseguiram, nos últimos tempos diversificar
mercados para lá da UE, têm-se sucedido no debate internacional sobre o tema
argumentos pragmáticos para uma saída consistente. Consistente tendo em conta a
possibilidade da situação grega poder ser resolvida no seio da zona euro, já
que a sua saída equivalerá a uma implosão desta última.
A capa do
Economist aqui invocada pelo Freire de Sousa entra nesse campo de lucidez pragmática,
que tenderá a embasbacar os aprendizes de ideólogos bons alunos que defenderam
a inevitabilidade da purga punitiva imposta pela pretensa
confiança dos mercados. E, por muito que custe a reconhecer a José Pacheco Pereira
e a António Lobo Xavier, o efeito Hollande aconteceu. Não pela radical mensagem
das suas propostas para uma França que precisava de abordagem séria e de menos
piruetas mediáticas, largamente apadrinhadas pela parceira Merkel, mas
sobretudo pela mudança da relação de forças da discussão no seio da zona euro. Aliás,
tal mudança estava já algum tempo a ser antecipada pela evolução da imprensa
especializada, também impregnada da tal lucidez pragmática.
Entre esta gente lúcida e pragmática está seguramente o
comentador e analista do Financial Times Wolfgang Münchau. Ele tem sido uma das
raras vozes a distinguir o que é que deve ser feito a curto prazo, só com exigências
legislativas, mas sem necessidade de alteração de tratados, embora combinado
com alterações mais a longo prazo. Esta distinção é crucial, pois para as
primeiras não basta enunciar a firme decisão de mudar, é necessário fazer.
Entre as primeiras, Münchau propõe a criação de um
esquema de seguro de depósitos que assegure a todo o cidadão que os seus depósitos
sejam pagos em euros, acaso o seu país tenha de abandonar a zona euro. Esta sim,
é uma medida de reposição da confiança. Para além desta medida crucial, propõe
ainda um mecanismo que determine a imposição, sem vetos nacionais, da
recapitalização dos bancos.
Mais a longo prazo, surgiriam então as grandes alterações
no sentido de uma nova união fiscal, eurobonds
para uma fração considerável de dívida existente, podendo abranger a já
mencionada solução dos “títulos de investimento” para financiar grandes
investimentos de longo prazo com intervenção do BEI. A alteração estatutária do
BCE entraria nesse campo de alterações, determinando a obrigatoriedade de
responsabilização pela estabilidade financeira.
A pausa europeia da última quarta-feira pode sugerir que
há matéria em discussão sob esta orientação.
Resta a questão de acomodar o mais que possível “default”
grego ainda integrado na zona euro. Nesse caso, o forte aumento que seria
necessário assegurar para os fundos do Mecanismo Europeu de Estabilidade
tenderia a precipitar a necessidade de antecipar as medidas que implicação
alteração de tratados.
Mas a implosão não está afastada.
Gente lúcida, pragmática. Esperemos que não apenas no
comentário, mas também nos bastidores de Junho.
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