A publicação por
parte do INE em dois dias seguidos do comportamento do PIB e da taxa de
desemprego (edição do 1º trimestre de 2012 das Estatísticas do Emprego) permite
explicar parcialmente alguma desorientação do governo na compreensão dos sinais
do mercado de trabalho.
A propósito da trapalhada
do envio das estatísticas do desemprego antes do conhecimento ao Parlamento, já
se tinha ouvido do Ministério das Finanças a afirmação de que a taxa de
desemprego apresentaria um comportamento dissociado do da atividade económica e
daí alguma perplexidade. De facto, o comportamento recessivo do PIB revelou-se ligeiramente
inferior ao esperado, ao passo que a taxa de desemprego parece escapar à previsão
do governo, o que não deixa de ser paradoxal dada a formação académica do
Secretário de Estado do Emprego.
O comportamento
menos recessivo do que o esperado para o produto interno prende-se sobretudo
com a resiliência do setor exportador, à revelia de qualquer política pública
para tal orientada, e com apesar de tudo um recuo inferior ao esperado do
consumo privado, esse mais difícil de interpretar.
No comportamento
da taxa de desemprego, parecem estar a coexistir em meu entender a consequência
óbvia da terapia recessiva imposta à economia portuguesa e a destruição de
emprego ainda resultante da mudança estrutural da economia portuguesa em
adaptação ao processo de globalização com euro acima do nível de
desenvolvimento da economia portuguesa. Acresce que a desalavancagem do setor
de não transacionáveis não só através do crédito mas também da compressão do
consumo impõe a destruição de emprego em atividades que historicamente sempre
apresentaram níveis altos de absorção de emprego desqualificado. Quando se está
em presença de mudanças estruturais como a que foi anteriormente sintetizada, a
previsão da variável desemprego torna-se mais instável, projetando-se essa instabilidade
nos parâmetros de base que suportam a previsão. Não será por acaso que as
variações homóloga e trimestral do número de desempregados são mais elevadas,
com 423 400 indivíduos à procura de novo emprego nos serviços.
A informação
publicada pelas Estatísticas do Emprego não permite leituras mais finas no
plano setorial, o que deixa para mais tarde a sua concretização.
Uma outra nota
relevante diz respeito à dinâmica de fluxos entre as situações de emprego,
desemprego e inatividade (ver gráfico abaixo).
(Fonte: Estatísticas do Emprego 1º Trim. 2012, INE)
Tem particular
relevância a dinâmica dos fluxos que têm por origem a situação de desemprego:
- Cerca de 69% permanece na situação de desempregado;
- Cerca de 17% consegue regressar ao emprego;
- 14% desloca-se para a inatividade.
Os inativos desencorajados, isto é, que não expressam vontade
de voltar ao mercado de trabalho, aumentaram num ano de 50%, passando grosso
modo de 60000 para 90000 indivíduos.
Do ponto de vista regional, assinalo os seguintes tópicos
no comportamento da taxa de desemprego:
- Confirma-se que a base produtiva da região Centro é mais resiliente do que a do Norte (11,8% contra 15,1%);
- A Madeira e o Algarve (sobretudo este último com 20% da taxa de desemprego) confirma a fragilidade de um modelo de crescimento dominado pela relação turismo-imobiliário;
- A região de Lisboa (16,5%) viverá sobretudo o impacto da desalavancagem dos serviços;
- O Alentejo confirma a ausência de atividades motoras de criação de emprego);
- Os Açores são a única região a par com o Centro que consegue reduzir a taxa face ao trimestre anterior.
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