terça-feira, 22 de maio de 2012

O ISOLAMENTO DE CAMERON



Não, não se trata de regressar à tese do isolamento político de David Cameron com o veto do tratado europeu de fins de 2011 e a peculiar situação em que o Reino Unido se colocou ou em que os líderes europeus o colocaram na sequência dessa decisão.
O isolamento a que me refiro é ditado pela insistência de Cameron e Osborne no tipo de política económica e monetária que o Reino Unido tem vindo a desenvolver nos últimos tempos, aparentemente sem resultados compatíveis com o que a economia global necessitaria neste momento. Essa dissonância tornou-se clara na reunião do G8 em Camp David.
Do Financial Times de hoje pode destacar-se a preocupação do FMI com essa aparente teimosia:
“O Fundo Monetário Internacional solicitou ao Banco de Inglaterra que descesse as taxas de juro e aumentasse a oferta de moeda para estimular a procura na economia. Pediu também ao governo do Reino Unido para preparar um Plano B de redução do défice se estas medidas não funcionarem.”
Na avaliação do FMI, não só o crescimento é baixo como o desemprego particularmente de jovens é muito elevado, num contexto em que as pressões inflacionistas são reduzidas (a mais baixa em 2 anos e com tendência para permanecer durante o próximo ano abaixo dos 2%).
É por isso de isolamento nas ideias quanto à política económica e monetária se deve agora falar.
O insuspeito Martin Wolf não está com meias medidas e escreve que Cameron está a consignar o Reino Unido à estagnação económica:
“Com taxas de juro próximas de zero – sim, zero - é impossível acreditar que o governo não encontre investimentos para concretizar, ou investimentos que possa realizar com o setor privado, ou investimentos privados cujos riscos que possa assumir não sejam superiores ao custo real dos fundos.
(…) Com o seu receio do espectro de um colapso do preço dos títulos. O governo está a consignar o Reino Unido à estagnação. Recusa-se a tirar partido das oportunidades de crédito de uma vida. Não está disposto a contemplar um impulso fiscal limitado no tempo com o receio de que os mercados entrem imediatamente em pânico. Está determinado a persistir no seu rumo, apesar das inesperadas alterações adversas observadas no ambiente externo. O resultado será provavelmente uma redução permanente do produto no Reino Unido, não ignorando o permanente dano provocado a toda uma geração de desempregados. Tenho palavras para este comportamento. A palavra “sensível” não faz parte dessa lista.”
O isolamento da teimosia doutrinária e ideológica emerge claramente das palavras de Wolf. A recente expressão de Cameron “We are moving in the right direction” pode ficar na história da política económica e monetária como um dos mais gritantes exemplos de insensibilidade às evidências da economia real.

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