Não, não se trata
de regressar à tese do isolamento político de David Cameron com o veto do
tratado europeu de fins de 2011 e a peculiar situação em que o Reino Unido se
colocou ou em que os líderes europeus o colocaram na sequência dessa decisão.
O isolamento a que
me refiro é ditado pela insistência de Cameron e Osborne no tipo de política económica
e monetária que o Reino Unido tem vindo a desenvolver nos últimos tempos,
aparentemente sem resultados compatíveis com o que a economia global necessitaria
neste momento. Essa dissonância tornou-se clara na reunião do G8 em Camp David.
Do Financial Times de hoje pode destacar-se a preocupação do FMI com essa aparente teimosia:
“O Fundo Monetário
Internacional solicitou ao Banco de Inglaterra que descesse as taxas de juro e
aumentasse a oferta de moeda para estimular a procura na economia. Pediu também
ao governo do Reino Unido para preparar um Plano B de redução do défice se
estas medidas não funcionarem.”
Na avaliação do
FMI, não só o crescimento é baixo como o desemprego particularmente de jovens é
muito elevado, num contexto em que as pressões inflacionistas são reduzidas (a mais baixa em 2 anos e com tendência para permanecer durante o próximo ano abaixo dos 2%).
É por isso de
isolamento nas ideias quanto à política económica e monetária se deve agora
falar.
O insuspeito Martin Wolf não está com meias medidas e escreve que Cameron está a consignar o
Reino Unido à estagnação económica:
“Com taxas de juro
próximas de zero – sim, zero - é impossível acreditar que o governo não
encontre investimentos para concretizar, ou investimentos que possa realizar
com o setor privado, ou investimentos privados cujos riscos que possa assumir não
sejam superiores ao custo real dos fundos.
(…) Com o seu
receio do espectro de um colapso do preço dos títulos. O governo está a
consignar o Reino Unido à estagnação. Recusa-se a tirar partido das
oportunidades de crédito de uma vida. Não está disposto a contemplar um impulso
fiscal limitado no tempo com o receio de que os mercados entrem imediatamente
em pânico. Está determinado a persistir no seu rumo, apesar das inesperadas
alterações adversas observadas no ambiente externo. O resultado será
provavelmente uma redução permanente do produto no Reino Unido, não ignorando o
permanente dano provocado a toda uma geração de desempregados. Tenho palavras
para este comportamento. A palavra “sensível” não faz parte dessa lista.”
O isolamento da
teimosia doutrinária e ideológica emerge claramente das palavras de Wolf. A
recente expressão de Cameron “We are
moving in the right direction” pode ficar na história da política económica
e monetária como um dos mais gritantes exemplos de insensibilidade às evidências
da economia real.
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