domingo, 13 de maio de 2012

ALEMANIDADES... E NÃO SÓ



Chegou a semana em que Hollande toma posse, de imediato se deslocando a Berlim para conferenciar com uma Merkel há muito desejosa de o encontrar e que certamente o irá aguardar com os braços abertos que Séverin Millet já foi prevendo no “Le Monde”.



Os preparativos para a receção estiveram por estes dias a cargo de Wolfgang Schäuble (ilustração de http://www.toonpool.com), o até agora rígido e implacável ministro das Finanças. Que abriu os foguetes em entrevista à “Focus”, declarando: “Não é um problema que os nossos salários aumentem atualmente mais do que nos outros países da União Europeia. Estas subidas de salários contribuem para suprimir os desequilíbrios no interior da Europa. Mas devemos estar atentos para não exagerarmos.” A este primeiro sinal implícito de possível abertura a uma reorientação num sentido menos conservador da política económica juntou-se entretanto uma decisão da CDU visando a introdução de um salário mínimo no país. Em seguida, o bastião local da ortodoxia (Bundesbank) veio acrescentar que está preparado para tolerar que a Alemanha tenha uma taxa de inflação “somewhat” mais elevada do que os seus parceiros da Zona Euro, com Schäuble a reafirmar que a Alemanha podia “permitir-se uma inflação compreendida entre 2% e 3%”.

Recorde-se que o que está em causa é o de há muito reivindicado – e negado – contributo do mercado alemão para o combate aos grandes desequilíbrios comerciais e correntes intra-europeus, designadamente através de uma participação no relançamento do crescimento da Europa em geral e da sua periferia em particular - mais consumo doméstico significando, obviamente, mais oportunidades de exportação para os países deficitários em dificuldades - e após uma década de fortíssima contenção em nome da necessidade de reforçar a competitividade germânica. Por outro lado, também poderá estar em causa a eventualidade de os alemães aliviarem aquela que tem sido a sua obsessão em termos de um controlo dos riscos inflacionistas, diminuindo assim as suas constantes pressões sobre o BCE no sentido de uma continuada restritividade da política monetária.

Veremos em breve o que tudo isto realmente significa e irá dar… Até porque, havendo quem entenda que “pior é impossível” e que “é benvindo quem vier por bem” – já agora chame-se “cher François” à atenção para que tenha algum tento no diretório franco-alemão que tanto denunciou por anti-europeu –, outros lêem as alemanidades de que acima se fala como indícios de um crepúsculo (“Eurodämmerung” num post de hoje de Paul Krugman) que poderá estar aí à bica de chegar…

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