Chegou a semana em que Hollande toma posse, de imediato se deslocando a Berlim para conferenciar com uma Merkel há muito desejosa de o encontrar e que certamente o irá aguardar com os braços abertos que Séverin Millet já foi prevendo no “Le Monde”.
Os preparativos
para a receção estiveram por estes dias a cargo de Wolfgang Schäuble (ilustração de http://www.toonpool.com), o até agora rígido e implacável
ministro das Finanças. Que abriu os foguetes em entrevista à “Focus”,
declarando: “Não é um problema que os nossos salários aumentem atualmente mais
do que nos outros países da União Europeia. Estas subidas de salários
contribuem para suprimir os desequilíbrios no interior da Europa. Mas devemos
estar atentos para não exagerarmos.” A este primeiro sinal implícito de
possível abertura a uma reorientação num sentido menos conservador da política
económica juntou-se entretanto uma decisão da CDU visando a introdução de um
salário mínimo no país. Em seguida, o bastião local da ortodoxia (Bundesbank) veio
acrescentar que está preparado para
tolerar que a Alemanha tenha uma taxa de inflação “somewhat” mais elevada do
que os seus parceiros da Zona Euro, com Schäuble a reafirmar que
a Alemanha podia “permitir-se uma inflação compreendida entre 2% e 3%”.
Recorde-se que o
que está em causa é o de há muito reivindicado – e negado – contributo do
mercado alemão para o combate aos grandes desequilíbrios comerciais e correntes
intra-europeus, designadamente através de uma participação no relançamento do crescimento
da Europa em geral e da sua periferia em particular - mais consumo doméstico
significando, obviamente, mais oportunidades de exportação para os países
deficitários em dificuldades - e após uma década de fortíssima contenção em
nome da necessidade de reforçar a competitividade germânica. Por outro lado,
também poderá estar em causa a eventualidade de os alemães aliviarem aquela que
tem sido a sua obsessão em termos de um controlo dos riscos inflacionistas,
diminuindo assim as suas constantes pressões sobre o BCE no sentido de uma continuada
restritividade da política monetária.
Veremos em breve
o que tudo isto realmente significa e irá dar… Até porque, havendo quem entenda
que “pior é impossível” e que “é benvindo quem vier por bem” – já agora chame-se
“cher François” à atenção para que tenha algum tento no diretório franco-alemão
que tanto denunciou por anti-europeu –, outros lêem as alemanidades de que acima
se fala como indícios de um crepúsculo (“Eurodämmerung” num post
de hoje de Paul Krugman) que poderá estar aí à bica de chegar…
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