quarta-feira, 9 de maio de 2012

UM LIVRO DIFERENTE



Imagino que a grande maior parte dos que possam ler o que aqui se vai escrevendo já não tenham ou possam nunca ter tido o bom hábito de ler um pouco de banda desenhada. Pato Donald ou Mickey, Reizinho ou Príncipe Valente, Billy the Kid ou Kit Carson, Flash Gordon ou Mandrake, Tintin ou Astérix, Lucky Luke ou Michel Vaillant, Garfield ou Mafalda, Spirou ou Corto Maltese…

Pois aí está uma excelente oportunidade para emendarem a mão. Trata-se de “Persépolis”, um livro de banda desenhada da autoria da iraniana Marjane Satrapi (2003) e cuja versão cinematográfica (de Vincent Paronnaud com a própria) foi nomeada em 2008 para o Óscar de melhor filme de animação mas uma obra que só recentemente foi editada entre nós pela Contraponto. Autobiográfico, ilustrado a preto e branco, a meio caminho entre o enganadoramente ingénuo e o trabalhosamente simples, atravessado por uma escrita informada e expressiva.

Persépolis era a antiga capital do Império Persa e localizava-se no atual Irão. É por referência a essa “antiga e grandiosa civilização” que Marjane Satrapi relata a sua história – uma infância cuja educação liberal entra em choque com as normas da revolução islâmica, uma adolescência marcada por uma experiência europeia na Áustria, um regresso a Teerão dominado pela inadaptação, uma saída definitiva para Paris –, procurando simultaneamente evidenciar os grandes movimentos e contradições de uma sociedade iraniana bem mais complexa do que a propaganda vai fazendo passar e desmontar uma injusta imagem “quase sempre associada ao fundamentalismo, ao fanatismo e ao terrorismo”.

Não é um livro político, nem fundamentalmente um livro sobre o Irão. É, muito mais do que isso, um testemunho pessoal perante as marcas e os contextos do crescimento e os encontros e desencontros da vida. O indivíduo, a família e a sociedade, talvez mesmo por esta ordem…

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