Regresso ao passado longínquo: almoço no tradicional
Abadia no Porto. E uma tarde de Porto fervilhante: Bairro dos Livros, Flea Market no cinema Batalha (um
interior de passado fantasmagórico) e praça (algo anárquico, mas vibrante), manifestação
do PC mesmo junto ao Majestic, manifestação
dos indignados com foco na escola da Fontinha, turistas aos magotes e lá mais
para a noite a justa comemoração de mais um feito dos dragões (não sei se já
repararam mas o envelhecimento em mim dá para a tolerância).
Para além do significado de uma cidade fervilhante e
ocupando a rua (o tempo finalmente ajudou, mas de qualquer modo contra a
corrente do hábito do fechamento em casa), não pude deixar de pensar numa
regularidade de tudo aquilo. Todas as iniciativas a que me referi ou eram
contra, ou emergiam apesar de ou simplesmente eram neutras à atual liderança
municipal. E em torno desta regularidade há uma outra, não são necessariamente
o produto de políticas públicas urbanas, dirigidas à animação da Cidade. As
atmosferas que começam a transformar a Cidade resultam de um Porto contra a
corrente, de um Porto alternativo, de um Porto liberal no sentido de que não
necessitam do apoio interessado ou interesseiro de um poder qualquer que ele
seja. Um Porto contrapoder. Metaforicamente, também foi por aqui que o projeto
do futebol também começou e essa ainda é, para mim, a sua marca mais relevante,
mesmo tendo em conta o seu contributo mais inestimável (no sentido de ser
deixado colar) para o regionalismo serôdio e bacoco de que certas forças da Região
estão possuídas.
A confirmação de que um país, uma cidade, não precisam (aliás, dispensam) o sustento do "Poder", do Estado. Significa o que diz hoje Vasco Pulido Valente no Público: os socialistas no Poder não querem fazer reformas, não querem diminuir Estado, não querem que paguemos menos impostos, não querem que se viabilizem, com a nossa adesão espontânea, estas iniciativas. E não sejamos simplex a pensar que os da Es.coooo-llla ou os jovens indignados de iPhone em punho representam o que quer que seja.
ResponderEliminarMas não haverá um modelo de política pública intermédio, algo entre o 'controle total' ou a 'ausência absoluta'?
ResponderEliminarDigo isto porque se no Porto (ou em Lisboa) existe massa crítica cívica ou associativa suficiente para assegurar uma '(mo)vida cultural' regular, noutras cidades isso é mais difícil, o que exige uma maior disponibilidade e intervenção do Estado (local).
Mesmo no caso do Porto, não sei se o quadro de 'tensão cívica' com o poder será a médio prazo o mais favorável à criação de sinergias entre 'actores locais', o que eventualmente poderá diminuir o alcance e impacto de alguns destes meritórios esforços. O que leva à questão inicial, da necessidade de um poder público local mais actuante...
José Carlos Mota